Reunião na Câmara Legislativa debate controle de acesso em escolas do DF

Foto: André Amendoeira/SEEDF
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A segurança nas escolas públicas do Distrito Federal voltou ao centro do debate após uma série de episódios envolvendo armas brancas em instituições de ensino. No último mês, dois alunos foram feridos em ataques com faca: o primeiro no Centro de Ensino Médio 01 do Gama, em 31 de março, e o segundo no Centro Educacional 02 de Brazlândia, em 8 de abril. A crescente preocupação da comunidade escolar levou à realização de uma audiência pública nesta quarta-feira (16), na Câmara Legislativa do DF, para discutir medidas de controle de acesso às escolas.

Proposta pela deputada Paula Belmonte (Cidadania), a reunião contou com educadores, representantes da segurança pública, especialistas em políticas educacionais e estudantes. Entre as propostas discutidas estão a adoção de revistas em mochilas, instalação de detectores de metais, catracas com reconhecimento facial e o fortalecimento do Batalhão Escolar.

“Eu preciso de controle de acesso na escola. Não é a escola ideal, eu não quero uma escola tipo prisão. Mas hoje eu só quero me sentir segura no meu ambiente de trabalho. E eu quero levar segurança para os meus alunos também”, afirmou, emocionada, a coordenadora Silvia Maria Cavalcante, do Centro Educacional 01 São José, em São Sebastião. A escola foi alvo de um ataque em março deste ano, quando um estudante esfaqueou cinco pessoas. O caso, que não deixou vítimas fatais, foi motivado por bullying.

Silvia foi homenageada na audiência por sua reação ao impedir o avanço do agressor. “Quando ele entrou na segunda sala, eu peguei um cabo de rodo, bati nele e tranquei a porta”, relembrou. O ato foi aplaudido de pé por todos os presentes.

A assessora especial de cultura da paz da Secretaria de Educação do DF, Ana Beatriz Goldstein, classificou Silvia como “heroína” e defendeu a adoção de medidas firmes. “Queremos segurança para quem está dentro da escola. A nossa mochila tem que ter caneta, livros, sonhos. Não pode ter canivete, estilete, objetos que não são pedagógicos”, disse.

Medidas de curto e longo prazo

Para Flávio Campos, diretor do Centro de Línguas do Gama, é necessário um plano em várias frentes. “Precisamos de políticas de curto, médio e longo prazo. O curto prazo é resolver o problema de agora: crianças estão sendo esfaqueadas. Precisamos de controle de acesso”, defendeu.

O secretário executivo de segurança pública, Alexandre Patury, mencionou o Carnaval de 2025 como exemplo de sucesso ao combinar campanhas educativas com controle rigoroso. “Não tivemos nenhuma facada. Apreendemos 400 facas e tesouras. A mudança social leva tempo, mas enquanto isso não acontece, vamos esperar mais ataques?”, questionou.

Representando os estudantes, Guilherme Bezerra, do Centro Educacional 01 do Riacho Fundo II, também defendeu ações de segurança. “Reconhecemos que ações educativas precisam ser complementadas por estratégias que garantam a integridade física de todos.”

Críticas e contrapontos

Nem todos, porém, concordam com as soluções propostas. Para o diretor do CEM 01 do Gama, Macário Neto, os controles de acesso têm efeito limitado. “O investimento deve ser no Batalhão Escolar. A barreira física inibe armas, mas o tráfico de drogas vai continuar na porta da escola”, avaliou. Ele também apontou o bullying e a desestruturação familiar como fatores centrais da violência escolar.

A comandante do Batalhão Escolar, major Daniella Sellani, informou que mais de 100 objetos perigosos já foram apreendidos em 2024 e destacou a necessidade de soluções tecnológicas. “Não é viável ter um policial na porta de cada escola. Precisamos de tecnologia para ajudar na segurança.”

Outras vozes pediram uma abordagem mais cuidadosa. “Quantos alunos foram ouvidos? Cada escola é um universo”, alertou a pesquisadora Caroline Nogueira, que defendeu mais presença de psicólogos, pedagogos e assistentes sociais. Já a professora Andreia Monteiro destacou a necessidade de adaptar medidas conforme a faixa etária dos estudantes.

A deputada Paula Belmonte concordou com a personalização das ações, mas defendeu uma diretriz geral. “Uma regra comum evita discriminações. A autoestima dos alunos é fundamental, e uma decisão não pode reforçar estigmas entre escolas.”

A audiência pública completa está disponível no canal do YouTube da TV Câmara Distrital.