Música no treino: Benefício ou distração?

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Especialistas analisam como o uso de fones de ouvido durante a atividade física pode impactar o desempenho esportivo

 

 

Ao entrar em uma academia de musculação ou frequentar um parque, é comum encontrar pessoas fazendo seus exercícios enquanto ouvem música nos fones de ouvido. Mas será que isso realmente traz benefícios para o rendimento esportivo?

Segundo o treinador Marcelo Raffani, ouvir música durante os exercícios físicos pode tanto ajudar quanto atrapalhar o desempenho no treino. De acordo com o especialista, vários fatores influenciam nesse impacto.

Quando a Música Pode Ajudar

“Música animada ou com ritmo acelerado pode aumentar a motivação e ajudar a manter o ritmo durante o treino, distraindo a pessoa da fadiga e do desconforto físico”, afirma Raffani. “Já músicas com ritmo constante podem ajudar a manter o ritmo de corrida ou exercício uniforme, melhorando a eficiência do treino”, completa. Além disso, ele explica que músicas com batida rápida podem aumentar a intensidade do treino, ajudando as pessoas a correrem mais rápido ou a levantarem mais peso. “É uma espécie de doping sonoro”, diz Raffani.

O pesquisador Costas Karageorghis, autor do livro “Applying Music in Exercise and Sport” (“Aplicando Música no Exercício e Esporte”, em tradução livre do inglês), passou 25 anos estudando a música e seu efeito no cérebro. Em sua pesquisa, ele mostrou que a música pode melhorar o humor, o controle muscular e ajudar o cérebro a construir memórias musculares importantes. Segundo Karageorghis, ouvir música ativa diferentes áreas do cérebro, como o lobo parietal, que contém o córtex motor; o lobo occipital, responsável pelo ritmo e coordenação; o lobo temporal, onde é liberado o hormônio do estresse (cortisol); e o lobo frontal e cerebelo, que regulam as emoções. Todas essas áreas são importantes para o desempenho atlético.

Estudos e Impactos Psicológicos

Outro estudo, publicado na revista Frontiers in Psychology, descobriu que a música pode aumentar a autoestima entre aqueles que estavam tendo um bom desempenho esportivo. Porém, esse benefício não foi observado entre os participantes que já estavam tendo um desempenho ruim.

O estudo contou com 150 participantes que realizaram arremessos de bola a distâncias fixas e preencheram questionários enquanto ouviam música. Eles foram divididos em três grupos: os que puderam selecionar a música a ser ouvida, os que ouviram música selecionada pelo pesquisador e os que não ouviram nenhuma música.

Os dados mostram que ouvir música não teve nenhum impacto positivo ou negativo no desempenho geral ou nas cognições autoavaliativas ou ansiedade relacionada ao esporte. No entanto, ela aumentou o senso de autoestima em participantes que estavam se saindo bem e também aumentou o comportamento de risco, particularmente em participantes do sexo masculino e participantes que podiam escolher sua própria música motivacional.

“Os resultados sugerem que os processos psicológicos ligados à motivação e à emoção desempenham um papel importante para entender as funções e os efeitos da música nos esportes e exercícios”, diz Paul Elvers, do Instituto Max Planck de Estética Empírica e um dos autores do estudo.

Quando a Música Pode Atrapalhar

Apesar dos benefícios para motivação, humor e autoestima na prática esportiva, a música também pode atrapalhar o rendimento no treino. Segundo Raffani, isso pode acontecer principalmente na prática de exercícios ao ar livre.

“Para atividades ao ar livre, como corrida ou ciclismo, música alta pode reduzir a percepção dos sons ao redor, como tráfego e outros perigos, aumentando o risco de acidentes”, afirma.

Além disso, música muito alta pode levar a um excesso de estímulo cerebral, resultando na perda de foco e, potencialmente, aumentando o risco de lesão. “Durante exercícios que requerem muita concentração ou técnica, como levantamento de peso pesado ou exercícios complexos, a música pode ser uma distração”, afirma Raffani.

Outro fator que pode atrapalhar é o ritmo da música. “Se ela não estiver sincronizada com o ritmo natural do exercício, pode interferir na cadência e na técnica, especialmente em exercícios de resistência e de alta intensidade”, explica Raffani.

De forma geral, o especialista afirma que a música pode, sim, ser integrada ao treino, mas desde que essa integração seja feita de maneira consciente e segura.