Quando pensamos e tentamos estabelecer uma relação entre tecnologia e dinheiro, automaticamente o assunto criptomoedas vem a cabeça e, embora seja um assunto que tenha ganhado espaço e destaque apenas no século XXI, a origem das criptomoedas é muito mais antiga. A primeira espécie de dinheiro eletrônico com caráter criptográfico surgiu ainda no final dos anos 80, pelas mãos do programador David Chaum.
Seu trabalho serviu como uma das bases de conhecimento para o surgimento da primeira criptomoeda descentralizada, a Bitcoin, no ano de 2009. Atualmente, algumas das criptomoedas mais conhecidas no mercado financeiro são a própria Bitcoin, a Litecoin e a Ethereum. Para nos ajudar a entender e desvendar os segredos das tais criptomoedas, o ‘Prosa’ convidou a mestre em direito e professora e pesquisadora na área de novas tecnologias e inovação, Tayná Carneiro, o professor do Departamento de Informática e de Estatística da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Jean Martina, e o mestre em informática aplicada e cofundador da OnePercent, Fausto Vanin para debater o tema.
Martina explicou que a criptomoeda é um ativo financeiro baseado em uma tecnologia que foi construída para ser resiliente de uma forma muito próxima com o qual foi construída a internet. “É um ativo financeiro que tem segurança do ponto de vista computacional para garantir que mesmo as pessoas competindo entre si para saber quem tem mais, ela se mantem segura e estável. Hoje elas viraram uma grande vedete de investimento de risco”.
Sobre esse chamado ativo financeiro, Tayná também pontuou que a especulação acaba se tornando inevitável, apesar de não ser exatamente igual a moeda comum que conhecemos, mas também funcionar como dinheiro. “Não é igual porque não existe um órgão central regulador que rege e garante qualquer tipo de contratempo que possa acontecer. Mas quanto mais ela for distribuída, compartilhada e utilizada, mais ela se torna segura e estável”.
O que é blockchain?
Muitas vezes quando ouvimos falar ou pesquisamos sobre criptomoedas, a palavra blockchain aparece acompanhando. Mas afinal, o que é blockchain? Ele nada mais é do que um sistema que permite rastrear o envio e recebimento de alguns tipos de informação pela internet. São pedaços de código gerados online que carregam informações conectadas. Por ser uma mecânica que reúne um conjunto de diversas tecnologias, Fausto Vanin também destacou que o blockchain funciona também pra uma série de outras aplicações, e não apenas criptomoedas.
Com esse rastreio de informações, Martina explicou que é possível fazer todos os registros de criptomoedas. “Para as criptomoedas o blockchain é como se fosse o livro razão para a contabilidade. Ele é onde se registra a criação de criptomoedas e nas mãos de quem estão. Isso é feito de forma pública e é possível registrar tudo de forma imutável e garantir uma rastreabilidade”.
Qualquer pessoa pode investir?
Desde o seu surgimento, a proposta da criptomoeda sempre foi ser uma moeda paralela ao habitual e descentralizada e, hoje, as criptomoedas possuem um viés de transformar esse ativo em um ativo financeirizável.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam quando veem o valor de uma bitcoin por exemplo, em US$ 32 mil, Martina explica que sim, qualquer pessoa pode começar a investir. “É importante deixar claro que esse valor é o de um bitcoin, mas ele é fracionado então uma pessoa pode, por exemplo, comprar uma pequena fração com apenas 10 reais e ter um pedacinho de bitcoin para chamar de seu. Não há um elitismo de acesso e também há outras criptomoedas com valores bem menores”.
O professor da UFSC ainda completa dizendo que já existem inclusive algumas moedas digitais que são emitidas por bancos centrais para a substituição do dinheiro ativo e, inclusive no Brasil, há uma discussão do banco Central para a criação do chamado CBDC, que seria uma forma de o Banco Central emitir uma espécie de R$ digital.