Com apoio do FAC, podcast Desvios aborda a ocupação da cidade com arte urbana

 

Por Catarina Loiola, da Agência Brasília | Edição: Carolina Caraballo

O novo episódio do podcast Desvios, criado pelo Coletivo Transversos, será disponibilizado nas plataformas digitais nesta sexta-feira (25). Realizado com apoio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec-DF), o projeto entrevista seis artistas urbanos que ocupam espaços públicos com murais, grafites e intervenções artísticas. A ideia é revelar os bastidores por trás das obras e comentar os desafios inerentes à produção. No novo episódio, o bate-papo é com o artista visual Pedro Sangeon, criador do personagem Gurulino.

Podcast realizado com apoio do FAC entrevista seis artistas urbanos que ocupam espaços públicos com murais, grafites e intervenções artísticas; novo episódio será lançado na sexta (25), com o artista visual Pedro Sangeon | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

Outros dois nomes de Brasília também participam do podcast: Kamala Ramers, atriz e produtora da Andaime Cia de Teatro, que aborda a experiência urbana pelos olhos da arte cênica; e Luciana Lara, da Anti Status Quo Companhia de Dança, que traz a performance como reflexão. Todos os conteúdos contam com audiodescrição das obras artísticas e ambientação sonora, além de serem disponibilizados no Spotify e no YouTube de forma gratuita, e transmitidos em parceria com a Rádio Eixo.

“O podcast Desvios tem a função de deixar registrada a história das obras e dos artistas que nós admiramos e que estão trabalhando a arte urbana em diversos suportes e linguagens. Os artistas narram como é o trabalho deles na rua e como foi produzir algumas de suas obras, trazendo a discussão do pertencimento à cidade e do direito à cidade”, explica uma das fundadoras do Coletivo Transverso, Patrícia Del Rey.

Patrícia Del Rey: “O podcast Desvios tem a função de deixar registrada a história das obras e dos artistas que nós admiramos e que estão trabalhando a arte urbana em diversos suportes e linguagens”

No bate-papo, Sangeon conta a história de uma pintura que fez em uma fachada na altura da 706 Sul, em 2019, em parceria com o Transverso. O desenho é uma referência à imagem em que São Sebastião leva flechadas para morrer. “Naquela época, nós estávamos vivendo um momento no país em que a cultura estava sendo massacrada e os artistas não tinham perspectiva nenhuma. Então, trazer o personagem quebrando uma flecha e a frase ‘a arte nunca morre’ era um recado do ressurgimento que ia acontecer mais cedo ou mais tarde”, esclarece.

O artista detalhou, no episódio, o processo conceitual e estético do desenho, que ficou engavetado por mais de um ano antes de estampar a avenida, e revela como foi conquistada a autorização para a pintura. “Quando se tem um artista querendo pintar e um morador querendo oferecer a parede, temos uma obra na cidade sem precisar de intermédio de ninguém mais, e isso é muito subversivo de certa forma, porque as pessoas não entendem a cidade como direito delas. Acho que esse é um pouco do papel do artista urbano”.

Para Pedro Sangeon, as pessoas não entendem a cidade como direito delas: “Acho que esse é um pouco do papel do artista urbano”

Incentivo

Criado em 2011, o Coletivo Transverso utiliza técnicas de arte urbana como lambe-lambe, stencil, projeções luminosas e performance para realizar intervenções poéticas no espaço público. O grupo já recebeu apoio do FAC-DF para a realização dos projetos Cada Caminho Um Sonho, com a promoção de oficinas de arte em bibliotecas públicas; Obra à Frente, em que fachadas da W3 Sul foram coloridas por artistas brasilienses; e Quantas Cidades Tenho Em Mim, em que oficinas online promoveram jogos teatrais e exercícios de escrita criativa.

Para Del Rey, o principal objetivo do coletivo é chamar a atenção para a cidade, sob o olhar de pertencimento. “Brasília nasce da obra de arte. É uma cidade construída, idealizada e sonhada antes de nascer. Tem uma frase que gosto muito de repetir, que é assim: ‘O Rio de Janeiro é a obra de Deus, São Paulo é a obra do homem, e Brasília é a obra de arte’. Então, aqui, você está o tempo inteiro sendo permeado por esculturas, por monumentos, e acho que isso influencia muito a nossa construção artística”.