
Pesquisadores defendem impostos seletivos para financiar saúde pública e reduzir mortes relacionadas ao consumo excessivo
O consumo de alimentos ultraprocessados e bebidas alcoólicas representa um impacto bilionário para o Sistema Único de Saúde (SUS). Pesquisas realizadas pela Fiocruz, em parceria com as ONGs ACT Promoção da Saúde e Vital Strategies, estimam que a má alimentação gera um custo anual de R$ 933,5 milhões em gastos diretos e até R$ 10,4 bilhões considerando despesas indiretas e mortes prematuras. Já o consumo de álcool custa R$ 18,8 bilhões por ano ao sistema público.
O estudo também revelou que doenças relacionadas a esses hábitos causam cerca de 57 mil mortes anuais pelo consumo de ultraprocessados e 105 mil relacionadas ao álcool. Apesar de o aumento da taxação não eliminar o consumo, os pesquisadores apontam um potencial de redução de até 25% dessas mortes — cerca de 40 mil vidas salvas por ano.
Propostas de solução
Uma das estratégias defendidas pelos autores do estudo é a implementação de impostos seletivos sobre produtos ultraprocessados e bebidas alcoólicas. Segundo Marília Albiero, da ACT Promoção da Saúde, esses tributos teriam efeito duplo: gerar recursos para o tratamento de doenças e desestimular o consumo de produtos nocivos. “Em longo prazo, isso reduz custos no sistema de saúde, aumenta a expectativa de vida e estimula escolhas mais saudáveis”, afirmou.
As ONGs estão promovendo campanhas para que a reforma tributária inclua esses impostos. Para Pedro de Paula, diretor da Vital Strategies, setores que geram custos elevados para a sociedade devem contribuir de forma mais justa. “É uma lógica de ganha-ganha: aumenta a arrecadação e financia políticas de saúde e justiça tributária,” defendeu.
Cenário alarmante
Doenças associadas ao consumo de ultraprocessados e álcool, como hipertensão, diabetes, obesidade, e até câncer, geram perdas econômicas significativas por redução da produtividade e altos custos médicos. Eduardo Nilson, pesquisador da Fiocruz, destaca que os números apresentados são conservadores, considerando apenas dados de adultos empregados e excluindo custos adicionais de prevenção e saúde suplementar.
Além disso, o impacto do álcool ultrapassa a saúde física, afetando questões sociais, como violência doméstica e acidentes de trânsito. A campanha publicitária “Quer uma dose de realidade?”, baseada nos estudos, revelou que 62% dos brasileiros apoiam a taxação de bebidas alcoólicas e 77% acreditam que o governo deve combater os danos relacionados ao álcool.
Mudança estrutural
Os especialistas argumentam que a arrecadação gerada pelos impostos pode financiar programas de saúde e políticas públicas, além de fomentar sistemas de apoio à agricultura familiar e à distribuição de alimentos in natura. “Estamos falando de promover saúde, equidade e sustentabilidade,” concluiu Albiero.
Com números alarmantes e apoio da sociedade, a proposta de taxação de produtos nocivos à saúde pública se apresenta como uma estratégia fundamental para salvar vidas e equilibrar os custos no sistema de saúde brasileiro.