Brasil terá 635 mil médicos até o fim de 2025, mas ainda enfrenta desigualdade na distribuição

Médicos chegam ao local de prova para a segunda etapa do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira (Revalida) 2020, em Brasília.
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O Brasil deve encerrar 2025 com 635.706 médicos em atividade, o que representa uma média de 2,98 profissionais por mil habitantes. Embora o número tenha apresentado crescimento, ele ainda está abaixo da recomendação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que estabelece uma média de 3,7 médicos por mil habitantes. As projeções apontam para um aumento substancial no número de médicos nos próximos anos, com expectativa de que, até 2035, o país ultrapasse a marca de 1 milhão de médicos em atividade, atingindo uma média de 5,2 profissionais por mil habitantes.

Esses dados são do estudo Demografia Médica 2025, publicado nesta quarta-feira (30) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB) e com o apoio do Ministério da Saúde. O levantamento, realizado anualmente há 15 anos, reúne dados sobre a formação, distribuição e atuação de médicos no Brasil, com projeções até 2035.

Mulheres à frente

Pela primeira vez na história, as mulheres se tornam a maioria entre os médicos brasileiros, representando 50,9% do total de profissionais em atividade no país. Essa tendência de crescimento feminino na medicina deve se consolidar nos próximos anos, com as mulheres prevendo-se responsáveis por 55,7% dos médicos em atividade até 2035.

A mudança de perfil do corpo médico no Brasil reflete a crescente presença feminina nas universidades e escolas de medicina. No entanto, a desigualdade na distribuição desses profissionais ainda persiste, com grandes disparidades regionais e socioeconômicas.

Desigualdade na distribuição de médicos

A pesquisa também revela as persistentes desigualdades na distribuição de médicos entre as diversas regiões do país. As 48 cidades com mais de 500 mil habitantes, que concentram 31% da população brasileira, abrigam 58% dos médicos em atividade. Por outro lado, as 4.895 cidades com menos de 50 mil habitantes, que também representam 31% da população, possuem apenas 8% desses profissionais.

O estudo indica que 19 das 27 macrorregiões de saúde no Brasil têm menos de um médico por mil habitantes, enquanto outras 15 apresentam médias superiores a 4 médicos por mil habitantes. Em 2035, a desigualdade deve persistir, com o Distrito Federal alcançando 11,83 médicos por mil habitantes, enquanto o Maranhão deverá ter apenas 2,43 médicos por mil habitantes.

Expansão da graduação médica

Entre 2004 e 2024, o Brasil experimentou uma expansão significativa da oferta de cursos de medicina. O país registrou 225 novos cursos de medicina entre 2014 e 2024, o que representou a abertura de 27.921 novas vagas. Já entre 2004 e 2013, o aumento foi de 92 cursos e 7.692 vagas. A quantidade de vagas adicionais em cursos já existentes também cresceu, com 11.110 novas vagas entre 2014 e 2024, frente a 697 entre 2004 e 2013.

Esse aumento na oferta de cursos de medicina, no entanto, não se reflete na mesma proporção nas vagas de residência médica. Em 2024, apenas 8% dos médicos brasileiros estavam cursando residência, e grande parte deles leva mais de um ano após a graduação para conseguir ingressar em programas de especialização. Dados mostram que 51,5% dos médicos aguardam até um ano após a graduação para começar a residência médica, enquanto 22,1% esperam até dois anos.

Perfil dos médicos no Brasil

Do total de 597 mil médicos em atividade no país em 2024, 59,1% eram especialistas, enquanto 40,9% atuavam como médicos generalistas. Entre os médicos especialistas, 50,6% estavam concentrados em apenas sete especialidades: clínica médica, pediatria, cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia, anestesiologia, cardiologia e ortopedia e traumatologia.

As mulheres predominam em algumas especialidades, como dermatologia (80,6%) e pediatria (76,8%), enquanto os homens dominam áreas como urologia (96,5%) e ortopedia e traumatologia (92%).

Desafios regionais

A distribuição desigual de médicos no país é uma das maiores preocupações apontadas pelo estudo. Enquanto o Distrito Federal e São Paulo apresentam as maiores taxas de especialistas por 100 mil habitantes (453 e 244, respectivamente), estados como Maranhão e Pará registram as menores taxas (68 e 70, respectivamente).

Esse cenário reflete a necessidade de políticas públicas focadas na redistribuição de médicos, especialmente nas regiões mais carentes, de forma a garantir o acesso à saúde de qualidade para toda a população.

Em resumo, embora o Brasil esteja avançando na formação e no número de médicos, o país ainda enfrenta desafios significativos em termos de distribuição geográfica e especialização. A tendência de aumento da presença feminina na medicina e a expansão da graduação são passos importantes, mas a melhoria na equidade de acesso à saúde continua sendo um dos maiores desafios para o sistema de saúde brasileiro.