Marco Zero de Brasília é redescoberto e ganha nova iluminação no aniversário de 65 anos da capital

Foto: Lúcio Bernardo Jr/Agência Brasília
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Em meio às obras de revitalização do Buraco do Tatu, no coração de Brasília, um símbolo histórico voltou à tona: o Marco Zero da capital.

Esquecido sob o asfalto por décadas, o disco metálico que marca o ponto de partida da cidade planejada foi redescoberto por operários e reacendeu a memória sobre o verdadeiro começo da capital federal — tanto no papel quanto no solo vermelho do cerrado.

Fincado em 20 de abril de 1957 pelo engenheiro e topógrafo Joffre Mozart Parada, o Marco Zero representa o cruzamento entre os eixos Rodoviário e Monumental e serviu de referência para toda a construção do Plano Piloto. Agora, o local ganhará nova iluminação, em homenagem aos 65 anos de Brasília. O sistema, orçado em R$ 70 mil, utilizará projetores RGB com até 3 milhões de combinações de cores, controlados remotamente pelo Centro de Comando da CEB.

Um herói silencioso da construção da capital

A redescoberta emocionou a família de Joffre, que sempre soube da existência do marco, mas viu seu reconhecimento ser deixado de lado com o passar dos anos. Gláucia Nascimento, filha mais velha do engenheiro, relembra com carinho a infância no Planalto Central e a dedicação do pai ao projeto de Brasília.

“Ele me mostrou o meio do nada e disse: ‘Essa vai ser a avenida mais movimentada. Vai ter comércio de um lado e residência do outro. Grava isso com a memória’”, conta. Gláucia, aos 10 anos, também ajudou a colorir o primeiro mapa do Distrito Federal, feito por Joffre e confirmado recentemente por documentos do Arquivo Público do DF.

Segundo a engenheira civil Thelma Parada, também filha do engenheiro, o pai foi responsável por muito mais do que demarcar o Marco Zero. “Ele implantou o primeiro sismógrafo da cidade e descobriu a jazida de calcário que deu origem à Fercal. Com pouco tempo de vida, fez muito por Brasília”, destaca. Joffre faleceu aos 52 anos, sem nunca ter buscado notoriedade por suas contribuições.

Da poeira à história

A reconstrução da memória de Joffre Parada e a valorização do Marco Zero simbolizam um movimento de resgate da história concreta da capital — não apenas dos traços de Lúcio Costa ou das curvas de Oscar Niemeyer, mas também daqueles que, com bússola, régua e olhar visionário, materializaram o sonho da nova capital brasileira.

“O mérito formal é de Lúcio Costa, mas quem pôs Brasília de pé, na prática, foi Joffre Parada”, afirma o historiador do Arquivo Público do DF, Elias Manoel da Silva, responsável por confirmar a autoria do mapa original e liderar os estudos que resgataram a importância do engenheiro na fundação da cidade.

Agora, com a nova iluminação e a valorização simbólica do local, o Marco Zero deixa de ser apenas um ponto geográfico e passa a representar, com mais justiça, o berço da cidade que acolhe o Brasil inteiro.