Hormônios femininos e dor: estudo da USP revela impacto do ciclo estral

Foto de Sydney Sims na Unsplash

 

Pesquisa aponta aumento da dor em fases de baixos hormônios e sugere potencial da progesterona como terapia futura

 

 

Um estudo inovador realizado na Universidade de São Paulo (USP) destacou a influência dos hormônios sexuais femininos na percepção da dor, revelando variações significativas ao longo das fases do ciclo estral. Conduzida no Programa de Pós-Graduação em Biologia de Sistemas do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), a pesquisa utilizou ratas Wistar para analisar como essas alterações hormonais afetam a sensibilidade à dor.

Aumento da dor durante o diestro

Liderado por Natasha Farias Marques, sob a orientação da professora Marucia Chacur, o estudo apontou que a sensibilidade à dor é maior durante o diestro, fase do ciclo caracterizada por baixos níveis de hormônios reprodutivos. “A reposição de progesterona em ratas com os ovários removidos demonstrou um efeito protetor contra a dor, enquanto o estradiol não apresentou impacto significativo até o momento”, explica Marques.

Essas descobertas reforçam a importância dos hormônios na saúde geral das fêmeas e sublinham a necessidade de incluir mais animais do sexo feminino em pesquisas científicas. “Grande parte dos estudos utiliza apenas machos, porque seus resultados não são influenciados por variações hormonais. No entanto, isso limita o entendimento das diferenças biológicas e impede avanços em tratamentos personalizados”, alerta Chacur.

Metodologia rigorosa e ética

Para avaliar a sensibilidade à dor, a pesquisa utilizou métodos rigorosos, como testes de pressão na pata, estímulos táteis e coleta de lavado vaginal — procedimento não invasivo semelhante ao exame papanicolau, que permite monitorar as fases do ciclo estral.

Parte das ratas foi submetida à ovariectomia, simulando condições de menopausa, o que possibilitou analisar o impacto da reposição hormonal na dor. “Os dados mostram que a progesterona reduz a sensibilidade à dor, sugerindo seu potencial como base para terapias futuras. Trabalhos como este são cruciais para o avanço da ciência e para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e individualizados”, afirma Chacur.

Reconhecimento internacional

O estudo foi reconhecido com menção honrosa no Congresso da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC) e será apresentado no 14º Congresso da Federação Europeia da Dor (EFIC), em abril de 2025, na cidade de Lyon, França. A expectativa é que os resultados ampliem o diálogo internacional sobre a necessidade de considerar diferenças biológicas entre os sexos em pesquisas científicas e tratamentos clínicos.

Com essas conclusões, o trabalho destaca não apenas os avanços no entendimento da dor em fêmeas, mas também o potencial de terapias baseadas em hormônios, como a progesterona, para melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas.