
Servidores de seis órgãos públicos brasileiros libertaram 593 pessoas que estavam em condições análogas à escravidão durante a quarta edição da Operação Resgate, realizada entre 29 de julho e 28 de agosto. Dentre as vítimas, 18 eram crianças ou adolescentes submetidos ao trabalho infantil ilegal, com 16 delas forçadas a realizar serviços em condições degradantes sem receber qualquer pagamento.
Os resgates ocorreram em 11 estados, incluindo Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco e Distrito Federal, que juntos concentraram os maiores números de libertações. As principais atividades econômicas envolvidas foram a agricultura, construção civil e serviços, como restaurantes e condomínios.
Um dos casos mais chocantes foi registrado em Pernambuco, onde 18 pacientes de uma clínica de reabilitação para dependentes químicos eram obrigados a trabalhar como parte do processo de internação. Segundo André Roston, coordenador-geral de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Análogo ao de Escravo e Tráfico de Pessoas do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), os pacientes realizavam atividades laborais compulsoriamente, sem nenhum empregado registrado na clínica.
A Operação Resgate IV, que também combate o tráfico de pessoas, é resultado da colaboração entre o MTE, Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério Público Federal (MPF), Defensoria Pública da União (DPU), Polícia Federal (PF) e Polícia Rodoviária Federal (PRF). Este ano, o número de pessoas libertadas foi 11,6% maior que na edição anterior, de 2023.
Entre os casos resgatados, destaca-se o de uma senhora de 94 anos, encontrada em Mato Grosso, onde trabalhava sem salário para a mesma família há 64 anos. Em São Paulo, uma mulher de 58 anos foi libertada após trabalhar desde os 11 anos em condições semelhantes à escravidão.
Além disso, a operação também resgatou trabalhadores estrangeiros em situações degradantes, como quatro argentinos em Anta Gorda (RS) e 13 paraguaios em Mato Grosso do Sul. As condições precárias e o isolamento geográfico contribuíram para a vulnerabilidade desses trabalhadores.
Até agora, os responsáveis já desembolsaram mais de R$ 1,91 milhão em verbas rescisórias, e as autoridades continuam buscando o pagamento de outras dívidas trabalhistas. Roston enfatizou a importância de punir financeiramente os exploradores, destacando que a exploração do trabalho escravo ainda é economicamente vantajosa para os empregadores.