Campanha “Natal no Beiradão” busca auxiliar famílias ribeirinhas impactadas por Belo Monte

© Marksuel Medeiros

 

Entidades e líderes comunitários unem esforços para amenizar as dificuldades enfrentadas pelas comunidades ribeirinhas

 

 

Líderes comunitários estão promovendo pelo segundo ano consecutivo a campanha “Natal no Beiradão”, com o objetivo de proporcionar melhores condições de vida para as famílias ribeirinhas impactadas pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. Organizada pelo Conselho Ribeirinho do Xingu e pela Associação Ribeirinha da Comunidade do Goianinho, a iniciativa conta com o respaldo do Ministério Público Federal (MPF).

Aberta para doações de qualquer pessoa, a campanha visa suprir necessidades básicas das famílias que, antes da construção da usina, desfrutavam da “fartura na pesca”, conforme destaca Raimundo da Cruz e Silva, vinculado à associação. Itens essenciais como material escolar, roupas, calçados para crianças e cestas básicas são imprescindíveis para essas comunidades.

A usina, classificada pela Norte Energia como “a maior hidrelétrica 100% brasileira”, tem sido objeto de debates devido aos impactos socioambientais gerados. O Instituto Socioambiental (ISA) publicou em 2015 o relatório “Dossiê Belo Monte: Não há condições para a Licença de Operação”, que detalha os efeitos nas comunidades ribeirinhas e indígenas da região. O reservatório da usina se estende pelos municípios de Altamira, Brasil Novo e Vitória do Xingu, abrangendo também Senador José Porfírio e Anapu, local marcado pelo assassinato da missionária Dorothy Stang.

De acordo com o MPF, oito anos após a expulsão de oito mil ribeirinhos do Rio Xingu para o enchimento do reservatório da usina, muitas famílias ainda não retornaram aos seus territórios originais. O órgão destaca as dificuldades enfrentadas por essas comunidades, que tiveram suas vidas drasticamente alteradas, vivendo agora à margem do rio transformado.

Josefa Camara, representante do Conselho Ribeirinho do Xingu, aponta que as indenizações recebidas pelas famílias variaram consideravelmente, e critica os critérios utilizados pela empresa, destacando a discrepância no valor pago para casas de palha em comparação com as de alvenaria.

Raimundo da Cruz e Silva enfatiza que, embora a campanha de doações seja uma ajuda pontual, a situação das famílias é crítica ao longo do ano. Ele ressalta que Belo Monte não trouxe benefícios, mas sim uma “onda de violência” e escassez de alimentos, tornando a campanha de Natal uma pequena luz em um ano de dificuldades.

Um estudo divulgado em 2021 revelou que a construção da usina contribuiu para triplicar as emissões de gases de efeito estufa no entorno do reservatório. A violência, agora, é percebida pela comunidade principalmente na forma da falta de alimentos e meios de subsistência.