
Pesquisa identifica ondas de calor, inundações fluviais e aumento do nível do mar como principais ameaças à comunidade, propondo ações de adaptação e conscientização
Um estudo detalhado de análise de riscos e vulnerabilidades climáticas realizado no Conjunto de Favelas da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, apontou para três principais desafios enfrentados pela comunidade de mais de 140 mil moradores: ondas de calor, inundações fluviais e o aumento do nível do mar.
A pesquisa, desenvolvida pela WayCarbon, uma empresa global focada em soluções para a transição sustentável rumo a uma economia de baixo carbono, em parceria com a Redes da Maré, instituição da sociedade civil voltada para a qualidade de vida e garantia de direitos dos moradores, busca identificar e compreender os riscos físicos climáticos enfrentados pela população local.
O estudo utilizou a plataforma MOVE ®️ – Model of Vulnerability Evaluation, fundamentada em dados do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU).
No que diz respeito às ondas de calor, a pesquisa revela que o risco é considerado “alto” ou “muito alto” em toda a área residencial da região. Esses riscos estão entre os principais desafios ambientais do século XXI, estando diretamente ligados ao crescimento populacional e às mudanças climáticas. Além do desconforto, as ondas de calor podem ter impactos significativos na saúde, aumentando as taxas de mortalidade e a demanda energética.
Melina Amoni, gerente de Risco Climático e Adaptação da WayCarbon, destaca a alta vulnerabilidade climática do território da Maré devido à sua densidade populacional. “Medidas simples como reflorestamento urbano, tetos verdes nas residências ou pintura branca nos telhados podem reduzir o impacto desses riscos imediatamente. É crucial incentivar a comunidade a adotar essas práticas”, ressalta Amoni.
Maurício Dutra, pesquisador e mobilizador do eixo de direitos humanos da Redes de Maré, enfatiza que o complexo de favelas enfrenta ameaças climáticas como transbordamento de rios e canais durante as chuvas. “A Maré está localizada entre importantes vias, resultando em uma qualidade do ar com níveis de poluentes mais elevados em comparação a outros territórios”, acrescenta. “O objetivo é conscientizar os moradores sobre os impactos das ameaças climáticas”.
Nascida entre águas e constituída por 16 favelas, o processo de ocupação da Maré se deu a partir da construção da atual Avenida Brasil, em 1946. A proximidade com o centro e a configuração geográfica favoreceram a formação desse conjunto de favelas, que agora enfrenta desafios climáticos acentuados.
O estudo será oficialmente lançado em um evento aberto ao público nesta sexta-feira (24), com o tema “Análise de Riscos, Vulnerabilidades Climáticas, Qualidade do Ar e Identificação de Ilhas de Calor no Conjunto de Favelas da Maré”.