Baixa oxigenação na infância está associada a problemas respiratórios e hipertensão arterial na vida adulta

Foto de hessam nabavi na Unsplash

 

 

Pesquisadores da Unesp identificam mecanismos do sistema nervoso que desencadeiam o aumento da pressão arterial em indivíduos que passaram por episódios de hipóxia intermitente nos primeiros meses de vida

 

 

 

Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) revelou que bebês que passam por períodos de baixa oxigenação nos primeiros meses de vida, como episódios de apneia durante o sono, têm maior probabilidade de desenvolver problemas respiratórios e hipertensão arterial ao longo da vida. O estudo, publicado na revista Sleep Research Society, demonstrou que essa relação está ligada a uma desregulação no sistema nervoso autônomo, responsável pelo controle da pressão sanguínea, batimentos cardíacos e respiração.

A pesquisa foi realizada em um modelo animal e mostrou que a hipertensão arterial está associada a uma hiperatividade dos neurônios do sistema nervoso simpático, que é ativado em situações de estresse. Os ratos que passaram por episódios de hipóxia intermitente no período pós-natal apresentaram maior atividade neuronal na região do tronco encefálico responsável por controlar a pressão arterial. Isso ocorre devido a uma adaptação do cérebro resultante da baixa oxigenação durante o desenvolvimento. Essa adaptação inclui o aumento da atividade do sistema nervoso simpático devido à maior expressão de uma proteína chamada fator induzível por hipóxia (HIF-1α) nos neurônios.

A expressão aumentada da proteína HIF-1α nos neurônios do tronco encefálico leva a alterações na leitura de outros genes, afetando a atividade celular. Isso resulta em vasos sanguíneos de menor calibre e, consequentemente, em pressão arterial elevada. Essa alteração é considerada um fenômeno epigenético, que são modificações bioquímicas nas células causadas por estímulos ambientais, sem alterar o genoma do indivíduo.

Além de fornecer insights sobre os mecanismos envolvidos na relação entre baixa oxigenação pós-natal e hipertensão na fase jovem e adulta, o estudo pode ter implicações clínicas significativas. A compreensão desses mecanismos pode levar ao desenvolvimento de novos tratamentos para a hipertensão, especialmente para aqueles pacientes que não respondem bem aos medicamentos anti-hipertensivos.

Os resultados também destacam a importância dos primeiros anos de vida na determinação do desenvolvimento de doenças. É necessário prestar atenção à respiração dos bebês como forma de prevenir o desenvolvimento de doenças na vida adulta.

Episódios de apneia em recém-nascidos são mais comuns em prematuros, quando o sistema nervoso central e o sistema respiratório ainda não estão completamente maduros, ou em bebês com hiperplasia de adenoide ou amídalas, deformidades anatômicas ou obesidade.

A compreensão completa do processo de hipertensão arterial causada pela baixa oxigenação no período pós-natal pode ajudar na busca por tratamentos para pacientes hipertensos que não respondem adequadamente aos medicamentos convencionais.

O estudo destaca a importância de investigar os efeitos da hipóxia intermitente na pressão arterial, pois essa condição pode levar a alterações no sistema nervoso simpático.