Engenheiro da RBR mostra como é trabalho na F1 longe do glamour

Mecânicos da RBR preparam carro de Max Verstappen para a classificação do GP da Rússia — Foto: Mark Thompson/Getty Images

 

 

Viver da Fórmula 1 parece um sonho; estar em contato com os carros, acompanhar as disputas de perto, conhecer os principais circuitos do mundo… Porém, para muitos dos funcionários essenciais das equipes, a rotina está bem longe da ostentação que a categoria demonstra. É o que revela o engenheiro sênior de sistema da RBR Daniel Drury, em uma publicação nas redes sociais.

A postagem foi feita após o anúncio do GP do Catar, uma semana após o GP do Brasil, em novembro – São Paulo fica a 11 mil km de Doha, capital do país do Oriente Médio. O trabalho começa na segunda-feira da semana da corrida e, em casos de rodadas duplas ou triplas, se estende por mais sete dias que chegam a 14 horas diárias de trabalho para mecânicos e engenheiros.

Mecânicos da RBR preparam carro de Max Verstappen para a classificação do GP da Rússia — Foto:  Mark Thompson/Getty Images
Mecânicos da RBR preparam carro de Max Verstappen para a classificação do GP da Rússia — Foto: Mark Thompson/Getty Images

– Um pequeno “fio” para a galera do “eles são pagos pra isso”, que acham que isso é apenas uma festa constante. Deixe-me acompanhá-los por uma rotina típica em um grande prêmio – escreveu o engenheiro britânico, funcionário da RBR desde os tempos de Sebastian Vettel.

Enquanto pilotos, chefes e convidados começam a aparecer nos paddocks na quarta ou quinta-feira, os funcionários responsáveis pela montagem dos boxes, dos carros e do pitlane, por exemplo, já estão no “batente” desde a segunda-feira, como mostra Drury.

 Na segunda-feira voamos para o local do evento, geralmente chegamos ao hotel à noite depois de perder um bom tempo com aluguel de carros, bagagem e etc. Dependendo do horário, talvez você consiga sair pela área para um jantar tardio. Caso contrário, você fica com o que conseguiu comer no voo ou no aeroporto – conta Drury.

Terça e quarta

Os preparativos começam oficialmente na terça-feira, no início da manhã, quando os empregados das equipes começam a desempacotar e descarregar os equipamentos que serão utilizados no fim de semana de corrida. Em um dia de trabalho que dura cerca de 12h, só é possível comer no hotel em que estão hospedados e, depois, almoçar com o que é fornecido pelos organizadores dos circuitos.

A escala se repete na quarta-feira, mas o tempo nos autódromos é ainda maior, já que os motorhomes e espaços de convívio estão operantes; assim, os funcionários não precisam fazer as refeições fora do local de trabalho. Folga para falar com a família? Apenas no hotel, durante a noite.

Funcionário da Alpine carrega pneus no paddock do Circuito de Sochi, palco do GP da Rússia — Foto: Sergei Fadeichev\TASS via Getty Images
Funcionário da Alpine carrega pneus no paddock do Circuito de Sochi, palco do GP da Rússia — Foto: Sergei Fadeichev\TASS via Getty Images

Quinta-feira

Na quinta-feira, quando os pilotos já começam a ser registrados pelo paddock, o dia é dedicado para a montagem do carro.

– Dia de montar o carro, três refeições feitas na pista. Passar 12 horas no circuito seria um bom dia mas geralmente passamos de 14h – continua Drury.

Fim de semana de corrida

Na sexta, quando começa oficialmente o grande prêmio, a maior parte do dia dos funcionários se passa em reuniões de engenharia e produção de relatórios, segundo o mecânico. No sábado, além dos preparativos para o último treino livre do fim de semana e a classificação, a rotina se repete em um dia de trabalho que pode passar as 12h de expediente.

O domingo, dia da corrida, é um verdadeiro desafio – para todos dentro e fora das pistas.

– Domingo é dia de corrida, e talvez você tenha tido um bom resultado. Brilhante. Mas é agora que começa a diversão: sabe aquela garagem que você construiu em dois dias? Precisa limpá-la em 4 horas, ter tudo empacotado e pronto para ir para o próximo evento – escreveu o engenheiro.

Tudo de novo

Os funcionários das equipes só vão embora na segunda-feira após a corrida, bem cedo. Mas caso se trate de uma rodada dupla ou tripla, como entre as etapas da França e Áustria, Bélgica e Itália, e do México até o Catar, em novembro, o próximo destino dos engenheiros e mecânicos não é a casa deles, mas o país sede da corrida seguinte.

Mecânicos da Mercedes trabalham nos boxes — Foto: Divulgação
Mecânicos da Mercedes trabalham nos boxes — Foto: Divulgação

Esse é um dos motivos pelo qual Max Verstappen e George Russell não se mostraram muito felizes com o número recorde de 23 corridas previstas para a temporada 2021 da F1, embora a pandemia tenha forçado a exclusão de uma etapa; antes, o calendário não passava de 21 etapas.

– É incrível correr nas melhores pistas do mundo, mas eu sinto pelas equipes. Esse é um esporte coletivo e eu estou pensando nos caras e moças que estão trabalhando aqui diariamente – comentou o piloto da Williams, no ano passado.

Para 2022, a expectativa do presidente da F1 Stefano Domenicali é de realizar as 23 corridas que não pôde neste ano, contanto com três provas consecutivas, as rodadas triplas, o que preocupa alguns chefes de equipe.

– Ele sabe da tensão que as pessoas têm, e essa tensão é enorme, principalmente para os mecânicos, que têm que chegar muito mais cedo, desmontar a garagem e nem sempre podem viajar com o conforto que nós temos. Precisamos encontrar uma maneira de proteger nossos funcionários e a nós mesmos, ao mesmo tempo em que seguimos a estratégia da F1 – opinou Toto Wolff, chefe da Mercedes.

A 16ª etapa do campeonato será no próximo fim de semana no Circuito de Istambul, palco do GP da Turquia. Faltam sete rodadas para o fim da temporada.(Ge)