
Engenheiro sênior de sistemas da equipe revelou em suas redes que trabalho de preparação para as corridas passa as 14 horas diárias e, em rodadas triplas, deixa pouco tempo para descanso entre as etapas
Viver da Fórmula 1 parece um sonho; estar em contato com os carros, acompanhar as disputas de perto, conhecer os principais circuitos do mundo… Porém, para muitos dos funcionários essenciais das equipes, a rotina está bem longe da ostentação que a categoria demonstra. É o que revela o engenheiro sênior de sistema da RBR Daniel Drury, em uma publicação nas redes sociais.
A postagem foi feita após o anúncio do GP do Catar, uma semana após o GP do Brasil, em novembro – São Paulo fica a 11 mil km de Doha, capital do país do Oriente Médio. O trabalho começa na segunda-feira da semana da corrida e, em casos de rodadas duplas ou triplas, se estende por mais sete dias que chegam a 14 horas diárias de trabalho para mecânicos e engenheiros.
– Um pequeno “fio” para a galera do “eles são pagos pra isso”, que acham que isso é apenas uma festa constante. Deixe-me acompanhá-los por uma rotina típica em um grande prêmio – escreveu o engenheiro britânico, funcionário da RBR desde os tempos de Sebastian Vettel.
Enquanto pilotos, chefes e convidados começam a aparecer nos paddocks na quarta ou quinta-feira, os funcionários responsáveis pela montagem dos boxes, dos carros e do pitlane, por exemplo, já estão no “batente” desde a segunda-feira, como mostra Drury.
Na segunda-feira voamos para o local do evento, geralmente chegamos ao hotel à noite depois de perder um bom tempo com aluguel de carros, bagagem e etc. Dependendo do horário, talvez você consiga sair pela área para um jantar tardio. Caso contrário, você fica com o que conseguiu comer no voo ou no aeroporto – conta Drury.
Terça e quarta
Os preparativos começam oficialmente na terça-feira, no início da manhã, quando os empregados das equipes começam a desempacotar e descarregar os equipamentos que serão utilizados no fim de semana de corrida. Em um dia de trabalho que dura cerca de 12h, só é possível comer no hotel em que estão hospedados e, depois, almoçar com o que é fornecido pelos organizadores dos circuitos.
A escala se repete na quarta-feira, mas o tempo nos autódromos é ainda maior, já que os motorhomes e espaços de convívio estão operantes; assim, os funcionários não precisam fazer as refeições fora do local de trabalho. Folga para falar com a família? Apenas no hotel, durante a noite.
Quinta-feira
Na quinta-feira, quando os pilotos já começam a ser registrados pelo paddock, o dia é dedicado para a montagem do carro.
– Dia de montar o carro, três refeições feitas na pista. Passar 12 horas no circuito seria um bom dia mas geralmente passamos de 14h – continua Drury.
Fim de semana de corrida
Na sexta, quando começa oficialmente o grande prêmio, a maior parte do dia dos funcionários se passa em reuniões de engenharia e produção de relatórios, segundo o mecânico. No sábado, além dos preparativos para o último treino livre do fim de semana e a classificação, a rotina se repete em um dia de trabalho que pode passar as 12h de expediente.
O domingo, dia da corrida, é um verdadeiro desafio – para todos dentro e fora das pistas.
– Domingo é dia de corrida, e talvez você tenha tido um bom resultado. Brilhante. Mas é agora que começa a diversão: sabe aquela garagem que você construiu em dois dias? Precisa limpá-la em 4 horas, ter tudo empacotado e pronto para ir para o próximo evento – escreveu o engenheiro.
Tudo de novo
Os funcionários das equipes só vão embora na segunda-feira após a corrida, bem cedo. Mas caso se trate de uma rodada dupla ou tripla, como entre as etapas da França e Áustria, Bélgica e Itália, e do México até o Catar, em novembro, o próximo destino dos engenheiros e mecânicos não é a casa deles, mas o país sede da corrida seguinte.
Esse é um dos motivos pelo qual Max Verstappen e George Russell não se mostraram muito felizes com o número recorde de 23 corridas previstas para a temporada 2021 da F1, embora a pandemia tenha forçado a exclusão de uma etapa; antes, o calendário não passava de 21 etapas.
– É incrível correr nas melhores pistas do mundo, mas eu sinto pelas equipes. Esse é um esporte coletivo e eu estou pensando nos caras e moças que estão trabalhando aqui diariamente – comentou o piloto da Williams, no ano passado.
Para 2022, a expectativa do presidente da F1 Stefano Domenicali é de realizar as 23 corridas que não pôde neste ano, contanto com três provas consecutivas, as rodadas triplas, o que preocupa alguns chefes de equipe.
– Ele sabe da tensão que as pessoas têm, e essa tensão é enorme, principalmente para os mecânicos, que têm que chegar muito mais cedo, desmontar a garagem e nem sempre podem viajar com o conforto que nós temos. Precisamos encontrar uma maneira de proteger nossos funcionários e a nós mesmos, ao mesmo tempo em que seguimos a estratégia da F1 – opinou Toto Wolff, chefe da Mercedes.
A 16ª etapa do campeonato será no próximo fim de semana no Circuito de Istambul, palco do GP da Turquia. Faltam sete rodadas para o fim da temporada.(Ge)