
Com novas tecnologias e produção em larga escala, país aposta em mosquitos geneticamente modificados e infectados com a bactéria Wolbachia para conter doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
O Brasil dá um novo passo no enfrentamento das arboviroses — como dengue, zika e chikungunya — com a inauguração de modernas biofábricas dedicadas à produção de mosquitos Aedes aegypti modificados. As iniciativas, desenvolvidas em parceria com instituições nacionais e internacionais, apostam em soluções inovadoras e sustentáveis para conter a propagação das doenças que desafiam o sistema de saúde, especialmente em países de clima tropical.
Em Campinas (SP), a empresa britânica Oxitec inaugurou sua nova fábrica, projetada para ser a maior do mundo em produção de mosquitos modificados. A planta, com 1.300 m², poderá gerar até 190 milhões de insetos por semana, empregando duas tecnologias: o “Aedes do Bem”, que utiliza machos geneticamente modificados para reduzir a população do vetor, e o método da bactéria Wolbachia, capaz de impedir que o vírus se reproduza dentro do mosquito.
De acordo com a diretora-executiva da Oxitec Brasil, Natalia Verza Ferreira, o objetivo não é exterminar o Aedes aegypti, mas substituí-lo por populações que não sejam capazes de transmitir os vírus. “Com a Wolbachia, criamos uma substituição natural: os mosquitos portadores da bactéria se reproduzem com os selvagens e passam a característica adiante, reduzindo a capacidade de disseminação das doenças”, explica.
A tecnologia também ganhou reforço com a biofábrica inaugurada em julho, em Curitiba (PR), fruto de uma parceria entre o Ministério da Saúde, a Fiocruz, o Tecpar, o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e o World Mosquito Program (WMP). A unidade paranaense produz cerca de 100 milhões de ovos por semana, ampliando o uso do método Wolbachia no país.
Enquanto a Oxitec aguarda autorização da Anvisa para iniciar sua produção plena, o governo federal já planeja expandir a aplicação da tecnologia. Segundo o Ministério da Saúde, o método está em operação em 13 municípios e deve chegar a mais 41 cidades em 2026.
Os processos dentro das fábricas seguem protocolos rigorosos, que vão desde o controle da alimentação e reprodução dos mosquitos até a separação por sexo e o empacotamento dos ovos. As caixinhas com ovos, enviadas a diversos locais, permitem a liberação gradual dos mosquitos ao longo de 28 dias — uma inovação que alia biotecnologia, controle ambiental e saúde pública.
Com o avanço dessas pesquisas e a consolidação das biofábricas no país, o Brasil se coloca na vanguarda mundial da biotecnologia aplicada à saúde. Mais do que combater o mosquito, as novas tecnologias representam uma mudança de paradigma no controle de epidemias que há décadas afetam milhões de pessoas em todo o território nacional.










