Internações por doenças inflamatórias intestinais crescem 61% em dez anos no SUS

© Tomaz Silva/Agência Brasil

Campanha “Maio Roxo” alerta para importância do diagnóstico precoce e tratamento adequado de condições como doença de Crohn e retocolite ulcerativa


As doenças inflamatórias intestinais (DIIs) — como doença de Crohn e retocolite ulcerativa — vêm crescendo de forma significativa no Brasil e já resultaram em 170 mil internações no Sistema Único de Saúde (SUS) nos últimos dez anos. O dado faz parte de um levantamento da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), com base no Sistema de Informações Hospitalares do Ministério da Saúde.

Segundo o estudo, o número de internações por essas doenças aumentou 61% entre 2015 e 2024, passando de 14.782 para 23.825. As DIIs são enfermidades crônicas, sem cura definitiva, que afetam o trato gastrointestinal e exigem diagnóstico precoce e acompanhamento contínuo, conforme destacam especialistas.

“O número de internações aumentou exponencialmente nos últimos anos não só pela severidade dos casos, mas também pelo aumento da incidência, isto é, aparecimento de novos pacientes sem tratamento”, explica a coloproctologista Ana Sarah Portilho, diretora de comunicação da SBCP.

De acordo com a médica, os casos são mais frequentes em capitais e regiões com maior industrialização e urbanização. Para ampliar a conscientização sobre o tema, a SBCP promove neste mês a campanha Maio Roxo, cujo ponto alto ocorre em 19 de maio, o Dia Mundial das Doenças Inflamatórias Intestinais.

As DIIs podem afetar pessoas de todas as idades, mas são mais comuns em adultos jovens em fase produtiva, o que pode impactar a vida profissional e pessoal dos pacientes.

“São doenças que, se não forem tratadas adequadamente e controladas, podem tirar a qualidade de vida do paciente, causar faltas ao trabalho e prejudicar muito esses pacientes e a família deles”, alerta a coloproctologista Mariane Savio.

Entre os principais sintomas estão diarreia crônica com sangue ou muco, dor abdominal, perda de peso, cansaço, urgência para evacuar e falta de apetite. Em quadros mais graves, pode haver anemia, febre, distensão abdominal, além de manifestações em articulações, pele e olhos.

A retocolite ulcerativa afeta a mucosa do intestino grosso, enquanto a doença de Crohn pode atingir desde a boca até o ânus, afetando todas as camadas do trato gastrointestinal.

Embora suas causas exatas não sejam conhecidas, as DIIs decorrem de uma combinação de fatores genéticos, ambientais e imunológicos. O tabagismo, por exemplo, é um fator agravante.

O diagnóstico é feito com base no histórico clínico e por meio de exames como colonoscopia, endoscopia, tomografia e ressonância magnética.

“O tratamento precoce, nos primeiros dois anos de sintomas, reduz muito o risco de cirurgias e melhora a resposta aos medicamentos”, afirma Mariane.

Embora não exista cura, o tratamento visa controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida, com medidas como alimentação saudável, abandono do tabagismo e prática de exercícios físicos. Medicamentos como aminossalicilatos, imunossupressores e imunobiológicos são utilizados conforme a gravidade de cada caso.

O presidente da SBCP, Sergio Alonso Araújo, reforça que a campanha tem como objetivo alertar a população sobre a importância do diagnóstico precoce:

“Queremos garantir melhor qualidade de vida ao paciente e até mesmo remissão dos sintomas”, afirmou.

Durante o Maio Roxo, a SBCP divulgará publicações e vídeos informativos em suas redes sociais, esclarecendo dúvidas e reforçando a necessidade de atenção contínua às doenças inflamatórias intestinais.