Exercícios físicos podem reduzir o apetite, aponta estudo australiano

Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

 

Pesquisa revela que a prática de atividades físicas pode não apenas aumentar a queima de calorias, mas também reduzir a fome, contribuindo para o emagrecimento


A relação entre exercícios físicos e emagrecimento é amplamente conhecida, mas um estudo recente sugere que os benefícios da malhação vão além da queima de calorias. Segundo pesquisa da Universidade Murdoch, na Austrália, publicada em dezembro de 2024 no periódico científico The Physiological Society, a prática de atividades físicas também pode levar à redução do apetite.

O estudo, embora com um número reduzido de participantes, envolveu 11 homens jovens, com idades entre 20 e 24 anos, sedentários e com obesidade. Eles foram submetidos a avaliações para medir níveis de colesterol, percentual de gordura e circunferência da cintura, além de responderem a questionários sobre seus hábitos alimentares e práticas de atividade física. Após um café da manhã padrão, os voluntários realizaram um teste de atividade física utilizando um cicloergômetro — um tipo de bicicleta ergométrica — que consistiu em cinco minutos de aquecimento seguidos de aumento progressivo da intensidade do exercício até a exaustão.

Durante o exercício, o consumo de oxigênio, a produção de dióxido de carbono e a frequência cardíaca dos participantes foram monitorados. Os resultados mostraram que, após a contração muscular, substâncias como interleucina-6 e irisina, que regulam o apetite, foram liberadas e agiram com intensidade nas próximas 40 minutos, aproximadamente, após o treino.

Apesar de o estudo ser limitado pela quantidade de participantes e por focar em um grupo específico, especialistas destacaram a relevância dos achados. A endocrinologista Deborah Beranger, do Rio de Janeiro, afirmou que o estudo traz informações valiosas sobre a influência dos exercícios na fome e saciedade, corroborando outros trabalhos que já demonstraram essa relação. “Podemos observar isso na prática clínica, especialmente com exercícios aeróbicos de intensidade moderada”, afirmou.

Carlos André Minanni, endocrinologista e coordenador médico do check-up e da pós-graduação em endocrinologia do Hospital Israelita Albert Einstein, também ressaltou outros aspectos do estudo. “Além dos hormônios que regulam a fome, como a interleucina-6 e a irisina, a pesquisa também mostrou o impacto da elevação da temperatura corporal e do fluxo sanguíneo, além da redução do neuropeptídeo Y, um estimulante do apetite”, explicou Minanni.

Embora os resultados sejam promissores, o endocrinologista alerta que são necessários mais estudos para entender como esses mecanismos se aplicam à população em geral. “Os efeitos podem variar dependendo do tipo de exercício, da intensidade, da duração e de fatores individuais como o condicionamento físico, a genética e a alimentação”, observou Minanni.

O estudo australiano, embora preliminar, abre caminho para uma nova compreensão de como a atividade física pode influenciar a sensação de fome, sendo uma ferramenta adicional no processo de emagrecimento.