Brasil avança em uso de moedas locais no Brics para reduzir custos comerciais

© Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

 

Sob presidência brasileira, bloco prioriza sistema de pagamentos sem depender do dólar, mas descarta criação de moeda comum neste momento

O Brics, sob a presidência rotativa do Brasil desde 1º de janeiro, dará continuidade ao avanço no uso de moedas locais para operações financeiras relacionadas ao comércio e investimentos entre seus países-membros. O objetivo é reduzir os custos comerciais e financeiros das nações emergentes, sem depender do dólar.

A confirmação foi dada pelo secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Mauricio Lyrio, nesta sexta-feira (21), em Brasília. Lyrio, que é o negociador-chefe do Brasil no Brics, afirmou que esse processo já ocorre desde 2015 e seguirá como prioridade durante a liderança brasileira no bloco.

“Vários membros já usam moedas locais no seu comércio bilateral, e isso continuará no período da presidência brasileira”, destacou.

O tema será debatido na próxima semana, durante reuniões entre os principais líderes-negociadores dos 11 países do bloco: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã.

Moeda comum não está na pauta

Apesar do avanço no uso de moedas locais, Lyrio esclareceu que o Brics não discutirá, neste momento, a criação de uma moeda única para o bloco.

“Não há acordos sobre o tema, até porque é um processo muito complexo. São economias grandes, e há outras maneiras de reduzir custos operacionais sem criar uma nova moeda”, explicou o diplomata.

A declaração vem após o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçar impor tarifas de 100% sobre importações de países do Brics, caso o grupo busque alternativas ao dólar nas negociações internacionais. Lyrio, no entanto, afirmou que a decisão de não discutir uma moeda comum não está relacionada às declarações de Trump.

Ele também não descartou que a ideia possa ser debatida futuramente pelos chefes de Estado do Brics. “Nada impede que os presidentes discutam a possibilidade, em um horizonte mais distante”, pontuou.

Brasil define prioridades para a presidência do Brics

As reuniões da próxima terça-feira (25) e quarta-feira (26) também definirão outras prioridades do Brasil à frente do Brics. Entre os temas que serão alinhados até a Cúpula de Chefes de Estado do bloco, marcada para 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro, estão:

  • Cooperação em saúde
  • Financiamento de ações contra a mudança climática
  • Comércio, investimento e finanças do Brics
  • Governança da inteligência artificial
  • Desenvolvimento institucional do bloco

O encontro será aberto pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, no Palácio do Itamaraty, e poderá contar com uma sessão especial com discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo dia do evento.

Mauricio Lyrio reforçou que o Brics tem o compromisso de fortalecer o multilateralismo e reformar a governança global. “O objetivo é torná-la mais democrática, inclusiva e representativa”, concluiu.