Lula defende transição justa e criação de Conselho do Clima na abertura da COP30 em Belém

© Bruno Peres/Agência Brasil

 

Presidente pede governança global mais robusta e alerta que a crise climática é também uma crise de desigualdade, com impactos severos sobre populações vulneráveis


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu, nesta segunda-feira (10), a 30ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizada em Belém (PA), com um discurso em defesa de uma transição justa para economias de baixo carbono e de uma governança global mais efetiva contra o colapso climático. O evento, que acontece pela primeira vez na Amazônia, segue até o dia 21 de novembro.

Lula afirmou que a emergência climática é uma “crise de desigualdade” que aprofunda as assimetrias históricas entre países do Norte e do Sul global. “A emergência climática é uma crise de desigualdade. Ela expõe e exacerba o que já é inaceitável. O desalento não pode extinguir as esperanças da juventude. Devemos a nossos filhos e netos a oportunidade de viver em uma Terra onde seja possível sonhar”, declarou.

O presidente também citou o xamã yanomami Davi Kopenawa, pedindo clareza aos negociadores. “Espero que a serenidade da floresta inspire em todos nós a clareza de pensamento necessária para ver o que precisa ser feito”, afirmou, destacando o papel simbólico da Amazônia como “pulmão e coração” do planeta.

Durante o discurso, Lula defendeu a criação de um Conselho do Clima vinculado à Assembleia Geral da ONU, que teria a função de transformar compromissos em ações concretas. Segundo ele, “avançar requer uma governança global mais robusta, capaz de assegurar que palavras se traduzam em ações”.

O presidente também reforçou a importância das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) mais ambiciosas e da ampliação de financiamento, transferência de tecnologia e capacitação para países em desenvolvimento. Lula destacou ainda a necessidade de superar a dependência dos combustíveis fósseis, responsáveis por 75% do aquecimento global.

Em tom de crítica aos negacionistas climáticos, o presidente afirmou que a COP30 será a “COP da verdade”. “Os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do multilateralismo. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”, disse, lembrando que, sem o Acordo de Paris, o planeta estaria “fadado a um aquecimento catastrófico de quase cinco graus até o fim do século”.

Lula também ressaltou o papel dos territórios indígenas e comunidades tradicionais na preservação das florestas e na regulação do carbono atmosférico. “No Brasil, mais de 13% do território são áreas demarcadas para os povos indígenas. Talvez ainda seja pouco”, reconheceu.

Antes de iniciar a leitura oficial do discurso, Lula fez uma saudação ao povo do Pará e destacou a importância simbólica de sediar a conferência na Amazônia. “Trazer a COP para o coração da Amazônia foi uma tarefa árdua, mas necessária. Quem só vê floresta de cima desconhece o que se passa à sua sombra”, afirmou.

Ao encerrar sua fala, o presidente reforçou que o combate à crise climática é uma escolha de civilização. “É mais barato cuidar do clima do que fazer guerra”, disse, lembrando que os gastos militares globais ultrapassam US$ 2 trilhões, enquanto o financiamento climático precisa atingir US$ 1,3 trilhão anuais para evitar a tragédia ambiental que já se anuncia.