
Presidente reforça necessidade de debater nova escala de trabalho no país; proposta enfrenta resistência do setor empresarial
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar, nesta sexta-feira (11), o modelo tradicional de jornada de trabalho seis dias de serviço por um de folga (6×1), adotado amplamente no Brasil. Durante cerimônia de lançamento de um programa de transferência de renda para atingidos pelo rompimento da barragem de Mariana (MG), em Linhares (ES), Lula defendeu a construção coletiva de uma nova jornada mais flexível, que respeite o tempo pessoal e familiar dos trabalhadores.
“A humanidade não quer mais seis por um. É preciso inventar um jeito de ter uma outra jornada de trabalho, mais flexível, porque as pessoas querem ficar mais em casa. As pessoas querem cuidar mais da família”, afirmou.
Segundo o presidente, o atual modelo não condiz mais com a realidade e os desejos das novas gerações. Lula também apontou que é necessário envolver universidades, organismos internacionais como a OIT (Organização Internacional do Trabalho) e instituições de pesquisa na construção de uma proposta que modernize o regime de trabalho no país.
“Hoje a juventude já não quer mais isso. O trabalhador não aguenta mais acordar cinco da manhã e voltar às sete da noite durante seis dias por semana. Vamos tentar apresentar uma nova forma de trabalhar nesse país para garantir mais mobilidade às pessoas”, acrescentou Lula.
Pressão popular e entraves políticos
O debate sobre o fim da jornada 6×1 ganhou destaque no cenário nacional no final de 2024, impulsionado por manifestações populares e pela crescente discussão sobre qualidade de vida no ambiente de trabalho. Protestos realizados na quinta-feira (10) em várias capitais voltaram a defender o fim da escala tradicional, aumentando a pressão sobre o governo e o Congresso.
Apesar do apoio público do presidente e da promessa de que o tema é uma “prioridade” do Executivo neste ano, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa alterar o regime 6×1 ainda não avançou no Legislativo.
Resistência empresarial
Do outro lado do debate, entidades do setor produtivo, como a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), expressaram resistência à mudança, alegando que a flexibilização da jornada pode acarretar aumento de custos operacionais para empresas, com impactos na competitividade e na geração de empregos.
A discussão sobre a jornada de trabalho se soma a um contexto global de transformações no mundo laboral, aceleradas por novas tecnologias, mudanças culturais e o pós-pandemia.
Com o tema agora em evidência e mobilizando sociedade civil, governo e empresários, a expectativa é de que as próximas semanas tragam novas propostas e debates estruturados para reformular a organização do trabalho no Brasil.