Setor produtivo critica elevação da Selic para 15% ao ano: “Injustificável”, dizem entidades

Indústria, comércio e centrais sindicais reagem com indignação à decisão do Banco Central e alertam para impactos negativos na economia real, empregos e investimentos


A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a Taxa Selic para 15% ao ano provocou uma onda de críticas entre representantes da indústria, do comércio e do movimento sindical. Segundo as entidades, os juros em patamar tão elevado sufocam a produção nacional, desestimulam investimentos e comprometem a geração de empregos.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, classificou a medida como “injustificável” e destacou que o país não enfrentava um patamar tão alto da Selic desde 2006. “A irracionalidade dos juros e da carga tributária já está sufocando a capacidade dos setores produtivos, que já lidam com um cenário conturbado. É um contrassenso o Banco Central se manifestar contra o aumento do IOF enquanto decide aumentar a taxa de juros. Aonde se quer chegar?”, questionou Alban em nota oficial.

A Associação Paulista de Supermercados (Apas) também se manifestou. Para o economista-chefe da entidade, Felipe Queiroz, o Banco Central ignorou alternativas mais equilibradas. “Havia espaço para estabilidade e até mesmo para queda da taxa. Não há justificativas para uma taxa de juros neste patamar”, afirmou. Ele completou dizendo que, mesmo com juros altos, as projeções indicam um crescimento de 2,2% do PIB em 2024, o que, segundo ele, poderia ser ainda maior com uma política monetária menos restritiva.

Na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a surpresa foi com a intensidade da alta. Apesar de destacar que o núcleo da inflação segue acima da meta — atualmente em 4,5% ao ano —, o economista Ulisses Ruiz de Gamboa reconheceu que o cenário macroeconômico apresenta sinais de desaceleração, o que poderia ter sido considerado na decisão do Copom.

“Apesar da valorização do real e da desaceleração gradual da atividade econômica interna, a inflação subjacente segue alta, o que justificaria cautela. No entanto, uma política tão contracionista pode sufocar a recuperação”, ponderou Gamboa.

Centrais sindicais falam em desemprego e concentração de renda

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outras centrais também criticaram fortemente a decisão. Para Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT e vice da CUT nacional, a medida penaliza diretamente as famílias brasileiras. “Os juros altos desestimulam os investimentos e o consumo, cenário que impacta diretamente o mercado de trabalho. O Brasil estaria gerando muito mais vagas de qualidade, não fosse essa política monetária do Banco Central”, afirmou.

A Força Sindical foi ainda mais enfática. Em nota, o presidente Miguel Torres afirmou que “os juros altos são um veneno para matar a produção e o comércio”. Segundo ele, a atual política favorece o sistema financeiro em detrimento da economia real. “É um convite à especulação. Os trabalhadores estão convencidos de que, ao manter essa política, o Copom só aprofunda o desemprego e a pobreza”, completou.

Panorama

A decisão do Copom se dá em meio a um cenário de pressões inflacionárias e incertezas fiscais. No entanto, as entidades produtivas defendem que há margem para uma atuação mais equilibrada que preserve o crescimento econômico. O aumento da Selic impacta diretamente o custo do crédito, dificulta o acesso a financiamentos, reduz o consumo e compromete os investimentos no setor produtivo — fatores que, para os críticos, devem acentuar as desigualdades e atrasar a retomada sustentável da economia brasileira.