
Carlos Roberto da Silva Lucas, militar reformado da Marinha, ignorou as recomendações médicas após ser diagnosticado com hipertensão aos 43 anos. Sem apresentar sintomas, acreditava não haver necessidade de iniciar o tratamento. No entanto, quatro anos depois, já na reserva, uma crise de saúde revelou as consequências da falta de cuidado: com a pressão arterial atingindo perigosos 24 por 18, Carlos Roberto quase sofreu um infarto e descobriu um quadro grave — um rim atrofiado e o outro funcionando com apenas 30% da capacidade.
A história de Carlos é um alerta sobre os riscos da hipertensão, doença crônica silenciosa que, segundo o Ministério da Saúde, mata 388 pessoas por dia no Brasil. A condição, caracterizada por níveis elevados de pressão arterial, exige que o coração trabalhe mais para bombear o sangue, aumentando o risco de infarto, AVC, insuficiência renal e cardíaca.
“Se o paciente ficar nessa de só confiar em sintomas, nós vamos continuar em um cenário extremamente desfavorável”, afirma Luciano Drager, diretor da Unidade de Hipertensão da Disciplina de Nefrologia da Faculdade de Medicina da USP. Para ele, o diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento são essenciais para evitar complicações graves.
Neste sábado (26), o Brasil celebra o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial, data que reforça a necessidade de conscientização. “Nós temos tratamentos disponíveis para a hipertensão e precisamos aplicá-los, mas tudo começa com a pessoa procurando atendimento médico e entendendo a importância da doença”, destaca Drager.
Pressão alta: porta de entrada para doenças renais e cardiovasculares
Casos como o de Carlos Roberto são comuns. A hipertensão não tratada é uma das principais causas de hemodiálise e transplantes renais no país. O nefrologista explica que a alta pressão compromete o fornecimento de oxigênio e nutrientes aos rins, danificando progressivamente os vasos sanguíneos. “O vaso sanguíneo vai ficando cada vez mais enfraquecido e mais espesso, determinando maior agressão aos rins”, explica.
Assim como a hipertensão, as complicações renais também evoluem silenciosamente. Quando os sintomas aparecem, como sangramentos, vômitos, confusão mental e alterações de consciência, o quadro já é grave.
Mesmo quem ainda não desenvolveu doença renal precisa tratar a pressão adequadamente para evitar que, em poucos anos, a condição evolua para um estágio crítico, alerta Drager.
Hoje, Carlos Roberto atua como presidente da Associação de Renais Crônicos, Transplantados e Doadores da Paraíba (Renais-Paraíba). Ele usa sua história para conscientizar outras pessoas sobre os perigos da hipertensão. “Eu sou um exemplo de que a hipertensão pode te fazer ser um paciente renal crônico. Façam o contrário do que eu fiz: procurem um médico, principalmente se houver histórico familiar”, ressalta.
Prevenção: mudança de hábitos é fundamental
O controle da hipertensão não depende apenas de medicamentos. Mudanças no estilo de vida são parte essencial do tratamento. Entre as recomendações do Ministério da Saúde estão:
Manter o peso adequado;
Reduzir o consumo de sal, utilizando temperos alternativos;
Praticar atividade física regularmente;
Parar de fumar;
Moderação no consumo de álcool;
Evitar alimentos gordurosos;
Controlar o diabetes.
Com o diagnóstico precoce, a adesão ao tratamento e a adoção de hábitos saudáveis, é possível controlar a pressão arterial e evitar que a hipertensão cause danos irreversíveis à saúde.