Gripe aviária acende alerta global: Brasil avança em vacina própria para evitar pandemia

Foto: Breno Esaki/Agência Brasília
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Especialistas apontam risco crescente de transmissão entre humanos; vacina universal com RNA mensageiro apresenta resultados promissores em testes com animais


A ameaça de uma pandemia de gripe aviária preocupa cada vez mais as autoridades de saúde ao redor do mundo. No Brasil, o avanço do vírus motivou o Ministério da Agricultura e Pecuária a prorrogar por mais 180 dias o estado de emergência zoossanitária, após a confirmação de 166 focos da doença, sendo três em aves de criação e 163 em aves silvestres desde maio de 2023.

Para a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, o momento exige aceleração no desenvolvimento de vacinas eficazes, inclusive de uma vacina universal contra todos os tipos de influenza, que já apresentou resultados positivos em testes com animais. Segundo a especialista, a nova tecnologia, baseada em RNA mensageiro, inclui o sequenciamento genético de todos os subtipos de influenza A e B.

“Eles testaram antígeno por antígeno isoladamente, e a resposta imune foi muito boa. Depois, aplicaram as 20 cepas juntas, e houve produção de anticorpos contra todas, por pelo menos quatro meses”, explicou Levi, destacando os experimentos com furões e ratos.

Apesar de já existirem vacinas específicas contra a gripe aviária estocadas em cerca de 20 países, o Brasil aposta em uma solução própria. O Instituto Butantan, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), está desenvolvendo um imunizante nacional, que apresentou bons resultados em testes com animais e aguarda autorização da Anvisa para iniciar os ensaios clínicos com humanos.

A especialista ressalta a urgência de não depender de fabricantes estrangeiros. “Esse vírus já infecta mais de 350 espécies, incluindo mamíferos como gatos domésticos. A letalidade é muito alta, e não temos imunidade prévia contra ele”, alertou.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2003 a março de 2025, foram confirmados 969 casos humanos de gripe aviária do tipo H5N1, com 457 mortes – uma taxa de letalidade superior a 50%. Embora essa proporção venha caindo desde 2015, surtos em animais têm aumentado drasticamente.

De outubro de 2024 a fevereiro de 2025, foram registrados mais de 900 surtos em aves de criação e 1.000 em aves silvestres – números que superam toda a temporada anterior de circulação do vírus. Neste ano, dos 72 casos registrados nas Américas, dois evoluíram para óbito, nos Estados Unidos e no México.

A presidente da SBIm reforça que o perigo é iminente: “Falta muito pouco para que esse vírus consiga se transmitir de pessoa para pessoa, e quando isso acontecer, a pandemia estará instalada.”

Diante desse cenário, o investimento em vacinas e o monitoramento intensivo de surtos em animais e humanos tornam-se ações indispensáveis para conter um possível novo desastre sanitário global.