
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou nesta quarta-feira (2) que os preços dos alimentos, principal fator de pressão inflacionária nos últimos meses, devem começar a cair nos próximos 60 dias. Segundo ela, essa redução pode abrir caminho para uma possível queda da taxa de juros no segundo semestre, respeitando a autonomia do Banco Central (BC).
“Falta combatermos de forma mais eficiente a inflação. Sei que vamos conseguir. Daqui a 60 dias, quem sabe, a diminuição no preço dos alimentos… Quem sabe, porque o Banco Central é autônomo, possamos diminuir os juros no segundo semestre”, declarou Tebet durante o evento de comemoração dos 60 anos do BC. Sua fala foi o momento mais aplaudido da cerimônia.
A ministra, no entanto, alertou que o aumento de tarifas comerciais pelos Estados Unidos pode dificultar o controle da inflação global e brasileira. No entanto, ela minimizou os impactos para o Brasil, destacando a diversificação dos parceiros comerciais e da produção agroindustrial.
Inflação e projeções do Banco Central
O último Relatório de Inflação do BC, divulgado no dia 27 de março, aponta que os preços ao consumidor devem continuar elevados nos próximos meses. O documento prevê que a inflação acumulada em 12 meses ficará em torno de 5,5%, acima da meta de 4,5%.
A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) também destacou que os preços dos alimentos seguem pressionados e podem afetar outros setores devido aos mecanismos inerciais da economia brasileira. Segundo o BC, alimentos in natura devem apresentar aumentos próximos ou acima da sazonalidade esperada.
Revisão de incentivos fiscais
Além do controle inflacionário, Tebet defendeu uma revisão dos incentivos fiscais como medida para garantir o equilíbrio das contas públicas.
“Os gastos tributários [incentivos fiscais do governo] precisam ser colocados na mesa quando falamos de fiscal. Temos uma renúncia de quase R$ 600 bilhões. Algumas se sustentam horizontalmente, beneficiando toda a economia. Outras precisam ser revistas”, afirmou.
Estabilidade no Banco Central e combate à polarização
Também presente no evento, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou a estabilidade na transição entre o ex-presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o atual presidente, Gabriel Galípolo. Ele ressaltou que a valorização das instituições é essencial para superar a polarização política.
“Se não tivermos uma visão institucional, dificilmente vamos vencer a má polarização da política. Quando a tensão entre os pólos impede uma agenda de Estado, não se consegue construir um projeto de país que sobreviva à alternância de poder”, disse Haddad.
Congresso e autonomia do Banco Central
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, destacou a parceria entre o Congresso e o BC para modernizar a legislação monetária. Ele citou a aprovação da autonomia do BC em 2021 como um marco fundamental para a credibilidade da autoridade monetária.
“A autonomia do BC permitiu que a autoridade monetária exercesse sua missão com maior previsibilidade e segurança institucional, protegida de interferências políticas e com credibilidade junto à sociedade e aos mercados”, afirmou Motta.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, reforçou que a autonomia fortaleceu a política monetária, garantindo mais previsibilidade nas decisões do BC.
Comemoração e lançamento de selo especial
Durante o evento, o Banco Central e os Correios lançaram um selo comemorativo pelos 60 anos da instituição. Além disso, foi anunciado um programa de entrevistas no YouTube com ex-presidentes do BC, com episódios semanais.
A celebração reuniu ministros, parlamentares e ex-presidentes do Banco Central, entre eles Pedro Malan, Henrique Meirelles, Armínio Fraga e Ilan Goldfajn, além de autoridades como os ministros Fernando Haddad, Simone Tebet, Luiz Marinho e Ricardo Lewandowski.
Com debates sobre inflação, juros e a autonomia da instituição, o evento reforçou o papel do Banco Central na estabilidade econômica do país e na condução da política monetária.