Comemoração destaca papel da universidade na valorização da agricultura familiar e desenvolvimento regional, além de lembrar doações históricas e investimentos recentes
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta terça-feira (23) da comemoração dos 10 anos do Campus Lagoa do Sino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em Buri, interior de São Paulo. A unidade, focada no desenvolvimento regional e na valorização da agricultura familiar, foi fundada a partir da doação de uma fazenda pelo escritor Raduan Nassar.
Durante a solenidade, foram anunciados investimentos de R$ 79,3 milhões do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na universidade. Lula relembrou a história da doação do terreno, articulada no final do seu segundo mandato com o então ministro da Educação, Fernando Haddad, atualmente ministro da Fazenda. O presidente destacou a importância dessa doação, ressaltando a diferença nas políticas de herança entre o Brasil e os Estados Unidos, onde doações privadas para universidades são comuns devido ao alto imposto sobre herança.
“Quando aparece um homem que, aos 75 anos de idade, naquela época, assume a vontade e a responsabilidade de se desfazer de um patrimônio dele, como esse aqui, para que a gente pudesse formar milhares e milhares de meninas e meninos nesse país, para ajudar o país a se transformar num país grande, num país importante, num país competitivo, a gente só tem que dizer graças a Deus, Raduan, Deus te pôs no mundo e você está colocando essa dádiva que Deus te deu para o futuro desse país’”, declarou Lula.
Raduan Nassar, agora com 88 anos, reside em Buri e esteve presente na celebração. Localizada no Vale do Ribeira, a 266 quilômetros da capital do estado, Lagoa do Sino é uma fazenda-escola e um dos quatro campi da UFSCar. A propriedade foi doada pelo escritor em 2011 com o desejo de transformá-la em uma universidade pública para promover o desenvolvimento socioeconômico da região. Em 2014, foram criados cursos conforme as demandas da população local.
Desenvolvimento Regional e Inclusão Social
O Campus Lagoa do Sino está baseado em três eixos temáticos: desenvolvimento territorial, soberania e segurança alimentar, e agricultura familiar. A universidade mantém uma relação direta com comunidades indígenas e quilombolas locais. Os primeiros cursos de graduação oferecidos foram engenharias agronômica, ambiental e de alimentos. Em 2016, foram acrescentados os cursos de administração e ciências biológicas. O campus também oferece programas de pós-graduação em conservação da fauna e conservação e sustentabilidade.
A reitora da UFSCar, Ana Beatriz de Oliveira, destacou que 604 estudantes já se formaram no Campus Lagoa do Sino, sendo que 90% estão empregados ou estudando, e 77% atuam em sua área de formação. “O sonho concretizado pode ser visto nas transformações que já identificamos a partir de cada estudante que passa por aqui, se forma, tem a sua vida transformada, muda o curso da história da sua família, e segue assim mudando o mundo”, disse a reitora.
Reconhecimento Histórico e Compromisso Social
O evento também contou com a presença de Sidney Aguilar Filho, que presenteou Lula com seu livro “Entre Integralistas e Nazistas: Racismo, Educação e Autoritarismo no Sertão de São Paulo”. A história dos meninos escravizados em fazendas da região foi objeto de pesquisa de Aguilar e deu origem ao documentário “Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil”. As famílias de dois dos meninos que viveram na fazenda estavam presentes na cerimônia, e seus netos estudam no Campus Lagoa do Sino da UFSCar.
Investimentos para o Futuro
Além das celebrações, foram apresentados os R$ 79,3 milhões em investimentos do governo federal nos campi da UFSCar, parte do Novo PAC. O montante contempla melhorias na infraestrutura elétrica, biblioteca, auditório e urbanização do Campus Lagoa do Sino, bem como a construção de centros de pesquisa, edifícios universitários, reforma e ampliação do Hospital Universitário nos campi de São Carlos e Sorocaba.
A comemoração organizada pela UFSCar inclui apresentações culturais, exibição de produções audiovisuais e depoimentos sobre a história do campus. A programação se estenderá até janeiro de 2025, com atividades acadêmicas, esportivas e culturais.