O caminho para compreender o autismo: da infância ao diagnóstico tardio

Caleb Woods na Unsplash

 

Histórias de superação e desafios na jornada de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

 

 

Ricardo Fulgoni, hoje juiz de direito na Justiça estadual do Paraná, teve uma infância e adolescência difíceis em Volta Redonda, sul fluminense, marcadas pela incompreensão e pelo bullying devido às suas dificuldades de interação social. “Eu sempre tive a compreensão de que eu era diferente. Que eu não conseguia fazer as mesmas coisas que as pessoas faziam”, relembra ele. A descoberta tardia de ser autista trouxe um novo entendimento para suas lutas ao longo da vida.

O diagnóstico de autismo veio em um momento crucial para Ricardo, durante a pandemia de covid-19. A mudança de rotinas e a sobrecarga sensorial afetaram seu cronograma de estudos para o concurso de magistratura, levando-o a procurar ajuda profissional. “Quando você está num nível de sobrecarga sensorial muito forte, seu corpo simplesmente desliga”, explica.

A aceitação do diagnóstico trouxe um alívio para Ricardo, que encontrou no entendimento do autismo uma explicação para suas dificuldades ao longo da vida. “Estava ali um manual de instruções da minha vida. Estavam explicadas todas as dificuldades que eu tive ao longo da vida”, conta ele.

O Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, celebrado nesta terça-feira (2), é uma oportunidade para trazer luz sobre o transtorno e reduzir o preconceito. “O transtorno do espectro do autismo é uma condição do desenvolvimento neurológico atípico, que se manifesta nos anos iniciais do desenvolvimento e que acarreta atipicidade nas áreas de interação social e de comunicação social”, explica o neuropsicólogo Mayck Hartwig.

Lucinete Andrade, presidente da Associação Brasileira de Autismo, Comportamento e Intervenção (Abraci-DF), compartilha sua jornada ao descobrir que sua filha, Mayara, era autista. “Quando você recebe esse diagnóstico, primeiro você tem muita insegurança em relação ao futuro do seu filho”, relata ela.

O autismo, hoje compreendido como um espectro de manifestações heterogêneas, apresenta desafios diversos para as pessoas afetadas e suas famílias. A inclusão nas escolas, acesso a tratamentos e terapias, inserção no mercado de trabalho e políticas públicas de educação e saúde são áreas que demandam atenção e ação para melhorar a qualidade de vida dos autistas.

A data também é uma oportunidade para destacar a importância do diagnóstico precoce e do suporte clínico e social ao longo da vida das pessoas com autismo. “Quando a gente consegue fazer a detecção antes dos três anos de vida, a gente consegue, muitas vezes, mudar a realidade dessa criança, desse adolescente, desse adulto”, ressalta Luciana Brites, especialista em Distúrbios do Desenvolvimento.