Ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do Distrito Federal revela alerta da Abin sobre ameaças de invasão dos Três Poderes
Durante seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos de 8 de Janeiro, o ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do Distrito Federal, Jorge Naime, afirmou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) havia alertado sobre ameaças de invasão das sedes dos Três Poderes na manhã do dia 7 de janeiro. Naime relatou que recebeu o alerta por volta das 10h em um grupo de WhatsApp composto por representantes de órgãos de inteligência, mas ressaltou que nenhum membro de seu departamento participava desse grupo.
Naime expressou estranheza pelo fato de a informação ter sido comunicada e documentada no grupo de inteligência às 10h da manhã, porém, não soube informar se o secretário interino de Segurança Pública do Distrito Federal teve conhecimento desse alerta. Ele ressaltou que é necessário investigar até que ponto essa informação foi compartilhada e se chegou aos níveis mais altos do comando de segurança, uma vez que, segundo Naime, o Gabinete de Gestão de Crise deveria ter sido acionado nesse momento. Ele questionou a aparente contradição entre o alerta da Abin e os relatórios posteriores que afirmavam que estava tudo monitorado e sob controle.
Durante o depoimento, Naime também criticou a atuação do Exército, alegando que os militares impediram a Polícia Militar do Distrito Federal de desmobilizar o acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército em dezembro de 2022. Ele afirmou que a PM não conseguiu cumprir as ações planejadas para desmontar o acampamento, o que resultou em descrédito para a instituição. Segundo Naime, a ordem para impedir a desmobilização teria sido transmitida pelo General Dutra, então chefe do Comando Militar do Planalto.
Naime já havia prestado depoimento à Comissão Parlamentar de Investigação (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal em março deste ano. Na ocasião, suas críticas ao Exército resultaram em uma apuração do caso pelas autoridades competentes.
Antes do depoimento à CPMI, o coronel apresentou um atestado médico alegando falta de condições psicológicas para depor. No entanto, após uma análise da junta médica do Senado, Naime decidiu falar à comissão. O presidente da CPMI, deputado Arthur Oliveira Maia (União-BA), levantou suspeitas sobre a veracidade do atestado, já que foi apresentado após o Supremo Tribunal Federal (STF) negar um habeas corpus solicitado pela defesa do militar. Naime teve seu direito de ficar calado e não responder a todas as perguntas garantido pelo STF, mas decidiu falar à CPMI mesmo assim.
*Com informações da Agência Câmara