Em momentos distintos na vida, todas temos de estar preparadas para o impacto físico de menarca, TPM e menopausa em nossos corpos. Mas os desconfortos não param por aí. Esses picos hormonais também afetam diretamente a saúde mental de alguém. A ginecologista e obstetra Karina Belickas explica o porquê de a atividade dos hormônios femininos estar diretamente ligada ao lado psicológico da mulher.
Segundo Karina, toda vez que há oscilações hormonais importantes, haverá alterações de humor acompanhando. “Tanto o estrogênio quanto a progesterona têm influência no funcionamento de neurônios importantes. Quando pensamos na mulher que está na menarca, por exemplo, que é o momento em que ela está começando a ter aumento hormonal, há também aumento na labilidade [mudança muito rápida de humor] emocional”, diz.
O que não imaginamos é que, se outra glândula do corpo responsável por produzir hormônios está desregulada, ela irá afetar todas as outras. “Se, por exemplo, a hipófise [responsável por produzir a prolactina que vai estimular a mama] produz muita prolactina, essa mesma prolactina vai bloquear a produção dos hormônios ovarianos, o que leva a uma amenorreia, que é a ausência de menstruação”, exemplifica a médica. Por isso, ao perceber mudanças muito bruscas ou algo que você não está acostumada, o ideal é procurar um médico para investigar.
De acordo com Karina, uma das fases mais difíceis para a mulher em questões hormonais é no pós-parto. “Há essa queda hormonal importante junto com todo o contexto do pós-parto: de responsabilidade e de aceitação do corpo. Isso tudo acaba também influenciando na parte emocional.”
Já o climatério é o período em que as mulheres têm mais tendência a desenvolver depressão. “Nesse momento também conseguimos associar com outras coisas como a síndrome do ninho vazio [quando a mulher está mais velha e os filhos já foram embora de casa]”, continua.
“Uma mulher que retira os ovários entre 30 e 40 anos, por exemplo, tem uma queda súbita dos hormônios. Nessa fase, em que ela está longe da menopausa e tem os ovários retirados, há um rompimento do fornecimento de hormônios. Ela estava habituada com aquela quantidade de hormônio e, de repente, ela não tem mais. Os sintomas associados à ansiedade e à depressão, geralmente, estão relacionados à oscilação ou à queda abrupta de hormônios”, completa.
Karina também alerta para a sensibilidade do útero e das mamas às alterações hormonais produzidas por outros órgãos. “O aumento de prolactina, por exemplo, vai levar dor na mama e aumento no seu volume, e isso é algo que pode gerar angústia e estresse, porque a mulher pode associar isso a questões negativas, como câncer. Isso não quer dizer que vá gerar um problema de saúde direto. É uma ligação do que ela está sentindo com ideias e experiências que ela teve.” E, com o útero, é igual. “Alterações hormonais podem gerar sangramento aumentado ou diminuído. E, de novo, isso vai associar a alguma lembrança ou receio que a mulher possa ter.”
Para finalizar, a ginecologista explica que muitas doenças, como DSTs, causam problemas emocionais por gerar angústia e ansiedade. “Quando há alteração em regiões como útero, ovário, vulva e vagina, existe essa ligação imediata a algo negativo, gerando ansiedade na mulher. É tudo muito interligado, não é algo isolado, único. Se você tem um problema na mama, não vai ser só na mama, deverá haver uma investigação para entender o que causou. A consequência disso não só de tratamento, mas também a ansiedade e a angústia geradas na mulher.”(ISTOE)