Câncer de mama: o impacto da autoestima e projetos de beleza gratuitos para ajudar mulheres nessa condição

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Mundialmente, o câncer de mama é o mais incidente entre as mulheres e a principal causa de morte feminina no Brasil. Com base nessas perspectivas, o diagnóstico positivo é um dos maiores temores, e afeta não somente o aspecto emocional, como psicológico e físico, segundo a psicóloga clínica e analista comportamental Alessandra Cieri.

A imagem corporal está entre as diversas preocupações da doença. “Todas as mulheres, algumas mais e outras menos, são vaidosas. A questão da estética está presente desde o momento do diagnóstico do câncer de mama. Um dos grandes medos comuns das pacientes é a queda de cabelo, porque não querem ser vistas com aparência de quem faz quimioterapia. Outra grande preocupação estética é com a mastectomia —  cirurgia de retirada da mama”, destaca Bruna Zucchetti, oncologista especialista em mamas do Hospital Nove de Julho.

O sentimento de impotência tem explicação psicológica. Alessandra pondera que se trata de um conjunto: temor pela morte, impacto físico, mudanças corporais e a sensação de medo de perder a feminilidade, bem como a vida amorosa e sexual.

Como a autoestima pode impactar no tratamento

Não se deve excluir a gravidade do câncer, entretanto tentar prosseguir normalmente é fundamental. A oncologista reforça que a vida não se limita ao diagnóstico, e tratamento não pode ser encarado como um martírio. A ideia é manter a rotina — respeitando suas limitações —, com trabalho, vida social, cuidado com os filhos, prática de atividades físicas e amor-próprio.

“Quando a mulher encara o tratamento dessa forma, fica muito mais fácil prosseguir. Portanto, cuidados com a autoestima durante o tratamento é fundamental”, afirma a médica.

A baixa autoestima traz sentimentos de culpa, vergonha, medo e insegurança, e pode ter como consequência o isolamento, que propicia a depressão. A psicóloga ressalta que quando essas sensações começam a dominar os pensamentos, comumente existe uma queda na motivação e no rendimento de diferentes aspectos da vida — nesse caso reflete no tratamento contra o câncer de mama.

“Devido às complicações e aos conflitos emocionais ocasionados pela diminuição da autoestima, é muito valioso agregar o profissional de estética com a equipe multiprofissional, de modo a contribuir para a qualidade de vida das pacientes oncológicas através de estímulos que visam aumentar o autocuidado e a saúde”, destaca Alessandra.

Projetos gratuitos para recuperar a autoestima da mulher oncológica

Alguns projetos gratuitos trabalham em prol de reacender a autoestima dessas mulheres; conheça três deles:

Projeto Léia

Três anos após a morte da avó, em 2013, por câncer de estômago e metástase na mama, a empresária Bruna Costa iniciou a carreira de micropigmentadora e desenvolveu o Projeto Léia em sua homenagem.

“Quando minha avó iniciou o tratamento de quimioterapia e perdeu os pelos, ela ficava muito tempo na frente do espelho tentando desenhar a sobrancelha, e eu me sentia mal por não saber ajudar. Em 2016, iniciei na área da micropigmentação e fiquei relembrando esses momentos, pensando em todas as mulheres que também passavam por isso. Agora, eu posso ajudá-las de alguma forma”, diz.

Em seu estúdio no bairro Tatuapé, zona leste de São Paulo, Bruna faz gratuitamente o trabalho de micropigmentação de sobrancelhas em mulheres que passaram pelo câncer e perderam total ou parcialmente seus pelos, desde que tenham autorização médica. A técnica, feita com um indutor manual e uma nano agulha, consiste em reconstruir a área desenhando fios semelhantes aos naturais, respeitando os traços e contrastes da paciente.

A empresária destaca que as queixas mais comuns entre essas mulheres é a “aparência de estar doente”, devido à falta ou falhas nas sobrancelhas. Após o procedimento, além da mudança estética, a autoconfiança fica evidente.

“A primeira mulher a participar do projeto me contou que, após anos solteira, está namorando e acredita que foi devido às sobrancelhas. Na verdade, a maior mudança que eu vejo nela, e em todas as outras, é a autoconfiança. Na primeira ida ao estúdio, elas chegam muito quietas e cabisbaixas, e quando vão ao retorno já estão falantes e confiantes, até a postura corporal parece mudar”, destaca.

Mulheres nessas condições podem contatar Bruna e marcar uma avaliação. No dia, a profissional irá fazer uma simulação dos fios com lápis e, caso a paciente goste do resultado, o procedimento semipermanente é agendado.

Projeto Flow

O Projeto Flow, uma iniciativa do Grupo Natalia Beauty, envia gratuitamente prótese areolarpara mulheres que passaram pela mastectomia. O produto, feito com silicone médico autocolante, é uma opção para pacientes que ainda não têm autorização médica para realizar micropigmentação na região.

“Foi a partir da identificação da necessidade de ampliar o acolhimento dessas mulheres que nasceu o Projeto Flow. Como o grupo produz próteses de lábios e sobrancelhas para o treinamento da técnica de nanopigmentação, tive a ideia de produzir também as próteses de aréola com silicone de grau médico. O resultado é idêntico ao natural, inclusive com os tubérculos característicos das aréolas originais”, explica a CEO, Natalia Martins.

Segundo a empreendedora, a prótese fica fixa na pele por cerca de 40 dias. Após esse período, basta higienizar, reaplicar a cola e usar a mesma prótese — que não possui prazo de validade determinado.

Em caso de interesse, mulheres todo o Brasil ou fora do país devem se inscrever através de um formulário disponível no site do Grupo Natalia Beauty e enviar foto da mama para análise especializada da equipe técnica, conduzida por Éderson Orlandi, professor especialista em prótese e anaplastologia.

Nanopigmentação paramédica

Técnica de nanopigmentação paramédica do Grupo Natalia Beauty (Crédito:Reprodução/Grupo Natalia Beauty )

Além da doação de próteses de aréola, o Grupo Natalia Beauty também oferece gratuitamente a nanopigmentação paramédica, procedimento semipermanente e não invasivo que reproduz a aréola através da pigmentação superficial da pele. A técnica já foi realizada em mais de cinco mil mulheres.

Segundo a CEO, a mudança na autoestima é nítida ao finalizar o procedimento, e se confirma através de feedbacks positivos. “A estética está intimamente ligada ao emocional. A maioria se sente fisicamente e emocionalmente abalada após todo o processo de tratamento. A nanopigmentação paramédica e prótese de aréola resgatam a alegria e permitem mais qualidade de vida a essas pacientes. É a finalização de um período de sofrimento, dor e incerteza”, ressalta.

O procedimento é realizado em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Mulheres interessadas devem agendar o procedimento no site do grupo.

Além da estética

Embora o cuidado estético desempenhe um papel fundamental, mulheres nessa condição não devem se limitar a esses procedimentos. A psicóloga Alessandra Cieri explica que os cuidados com os aspectos físico, psicológico e emocional devem estar aliados para contribuir não apenas para a recuperação da autoestima, como também para a diminuição da ansiedade e das dores, além de promover melhorias do sistema imunológico no período de tratamento e após a cura.

O acompanhamento psicológico para mulheres com câncer de mama é fundamental e indispensável, afinal, a saúde emocional pode impactar em todos os aspectos. “A autoestima não está ligada apenas às questões estéticas, como também aos pensamentos e atitudes. A estética é apenas um acessório do amor-próprio. Na terapia, as pacientes tendem a descobrir que podem se amar mais em todos os sentidos”, garante a analista comportamental.

O suporte de familiares e amigos é um dos pilares do tratamento e deve estar aliado aos demais cuidados, afinal, se sentir acolhida e amada promove a motivação na luta contra o câncer de mama.

“Faz parte dessa caminhada não apenas cuidar da saúde, como também das relações. A união e o respeito são a força que a paciente precisa, pois o câncer de mama é uma doença melhor enfrentada com muito cuidado e amor verdadeiro”, pondera a psicóloga.(ISTOE)