Calor e desidratação elevam risco de AVC durante o verão, alertam especialistas

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

Altas temperaturas, mudanças no estilo de vida e descuido com a saúde ajudam a explicar aumento de casos da doença nos meses mais quentes do ano

Os casos de acidente vascular cerebral (AVC) tendem a aumentar durante o verão, período marcado por altas temperaturas e mudanças na rotina da população. O alerta é do neurocirurgião e neurorradiologista intervencionista Orlando Maia, do Hospital Quali Ipanema, no Rio de Janeiro, que observa um crescimento significativo no número de atendimentos nessa época do ano.

Segundo o médico, o calor intenso provoca desidratação natural do organismo, o que deixa o sangue mais espesso e aumenta a possibilidade de coagulação. “O AVC está diretamente ligado à formação de coágulos. Quando o sangue fica mais concentrado, cresce o risco de trombose e, consequentemente, de um AVC”, explicou.

Existem dois tipos principais de AVC. O hemorrágico, responsável por cerca de 20% dos casos, ocorre quando há rompimento de um vaso cerebral. Já o isquêmico, mais comum, é causado pelo entupimento de um vaso por um coágulo. A desidratação, segundo Maia, favorece especialmente esse segundo tipo.

Outro fator associado ao verão é a alteração da pressão arterial. Com o calor, os vasos sanguíneos se dilatam para ajudar a regular a temperatura corporal, o que pode reduzir a pressão e favorecer a formação de coágulos e arritmias cardíacas. “Quando o coração bate fora do ritmo, aumenta a chance de um coágulo se formar e seguir para o cérebro, que recebe cerca de 30% do sangue bombeado pelo coração”, afirmou.

O médico destacou ainda que, durante férias e períodos de lazer, muitas pessoas relaxam nos cuidados com a saúde. O aumento do consumo de bebidas alcoólicas, o esquecimento de medicamentos de uso contínuo e a menor atenção à hidratação contribuem para elevar o risco. Doenças típicas do verão, como gastroenterites, diarreias, insolação e esforço físico excessivo, também entram na lista de fatores predisponentes.

O tabagismo é outro agravante importante. De acordo com Maia, o cigarro está entre as principais causas externas de AVC, pois a nicotina reduz a elasticidade dos vasos, favorece processos inflamatórios e contribui tanto para o AVC hemorrágico quanto para o isquêmico.

Combinados ao estilo de vida moderno e a doenças crônicas mal controladas, esses fatores têm feito com que o AVC atinja pessoas cada vez mais jovens. No Hospital Quali Ipanema, o número de atendimentos chega a cerca de 30 casos por mês no verão, o dobro do registrado em outras épocas do ano.

“O AVC é uma das doenças mais frequentes no mundo. Uma em cada seis pessoas terá um AVC ao longo da vida”, destacou o especialista. Além da alta mortalidade, a doença é uma das principais causas de incapacidade, com sequelas que afetam não apenas o paciente, mas toda a família.

Apesar da gravidade, a prevenção é possível. Hábitos como alimentação saudável, prática regular de atividade física, controle da pressão arterial, uso correto de medicamentos e abandono do tabagismo reduzem significativamente o risco. Maia ressalta também que o tratamento evoluiu muito nos últimos anos e que o tempo é decisivo.

“Quanto mais rápido a pessoa chegar ao hospital, maiores são as chances de recuperação. Em muitos casos, é possível dissolver o coágulo com medicação ou removê-lo por meio de um cateter”, explicou.

Entre os principais sinais de alerta estão paralisia súbita de um lado do corpo, dificuldade para falar, perda de visão, tontura intensa ou perda repentina da consciência. Diante desses sintomas, a orientação é clara: procurar atendimento médico imediatamente, pois o AVC é uma emergência e cada minuto pode fazer a diferença.