Inteligência Artificial avança nos cuidados com a pele

Foto de National Cancer Institute na Unsplash

Ferramentas digitais auxiliam na análise dermatológica e criação de rotinas de skincare, porém não substituem diagnóstico médico nem garantem segurança em tratamentos complexos


Com a rápida expansão das tecnologias digitais, a Inteligência Artificial (IA) passou a ocupar espaço no universo dos cuidados com a pele, oferecendo análises detalhadas e sugestões de rotinas de skincare. Segundo especialistas, os recursos têm potencial para democratizar o acesso a informações dermatológicas, mas ainda exigem cautela e supervisão profissional.

O dermatologista Lucas Miranda, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que softwares baseados em IA conseguem avaliar textura da pele, manchas, poros e sinais de envelhecimento com precisão cada vez maior. “Embora não substituam o raciocínio médico, esses recursos otimizam o rastreamento e podem facilitar a orientação inicial do paciente”, destaca.

Rotinas criadas por IA: úteis, mas genéricas

A popularização de aplicativos capazes de montar rotinas de skincare levantou dúvidas sobre sua confiabilidade. Para Miranda, a IA pode gerar sugestões iniciais, mas não deve ser interpretada como prescrição individualizada. “A prescrição de skincare envolve avaliação médica detalhada, conhecimento sobre a interação entre ativos, diagnóstico preciso e acompanhamento clínico. A IA pode auxiliar como ponto de partida, mas não substitui a conduta dermatológica”, afirma.

Por meio de algoritmos de aprendizado profundo, esses sistemas analisam características visuais e sugerem possíveis classificações  como acne, melasma, rosácea ou fotoenvelhecimento. Porém, dependem da qualidade dos bancos de dados e não consideram nuances clínicas importantes. “Ferramentas mal treinadas podem recomendar combinações inadequadas, como o uso simultâneo de ácido retinóico e glicólico por iniciantes”, alerta.

Como a IA formula recomendações

Alguns programas integram informações adicionais, como localização geográfica, clima, poluição, padrão de sono e hábitos de vida. Isso permite adaptar sugestões gerais ao contexto ambiental dos usuários. Apesar da sofisticação, Miranda reforça que tais análises continuam limitadas. “As informações não substituem a avaliação clínica, pois não consideram doenças dermatológicas, uso de medicações ou sensibilidades individuais.”

A facilidade de acesso também tem estimulado compras impulsionadas por diagnósticos automatizados. Segundo especialistas, sem orientação profissional, o consumidor pode cometer erros ou iniciar automedicação.

Os desafios da indústria

Entre os principais obstáculos para a consolidação da IA na dermatologia estão a necessidade de validação científica rigorosa, a inclusão de diferentes fototipos nos bancos de dados e a garantia de proteção dos dados sensíveis. “Ainda há limitações importantes, o que reforça a necessidade de integração com a prática médica para garantir resultados seguros e eficazes”, afirma Miranda.

A dermatologista consultada acrescenta que a tecnologia, quando bem utilizada, pode reforçar a adesão ao tratamento. “Um paciente informado é um paciente mais engajado. As ferramentas de análise facial permitem visualizar a evolução da pele ao longo do tempo, tornando a relação entre médico e paciente mais transparente.”

Enquanto a IA segue ampliando seu espaço no skincare, profissionais reforçam que a tecnologia deve atuar como apoio  e não como substituta  da prática dermatológica.