Brasil registra primeira vacina de dose única contra a dengue

Anvisa aprova imunizante do instituto butantan, que já tem 1 milhão de doses prontas; eficácia chega a 89% contra formas graves

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou nesta quarta-feira (26) que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro da Butantan-DV, a nova vacina contra a dengue produzida pelo Instituto Butantan. O imunizante, o primeiro do mundo em dose única, começará a ser aplicado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de 2026.

Segundo o Butantan, 1 milhão de doses já estão prontas para distribuição, e a expectativa é alcançar mais de 30 milhões até meados de 2026. A vacina foi aprovada para pessoas de 12 a 59 anos, faixa etária que poderá ser ampliada conforme novos estudos forem apresentados.

“Hoje é um dia de alegria, de vitória da vacina, de vitória da ciência, de vitória da cooperação entre o SUS e suas instituições públicas”, afirmou Padilha, ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. O ministro destacou que o imunizante representa um “hat-trick”: é 100% brasileiro, oferece proteção ampla e exige apenas uma dose.

Integração ao pni e impacto na saúde pública

A Butantan-DV será incorporada ao Programa Nacional de Imunização (PNI). O Ministério da Saúde apresentará nesta quinta-feira (27) os detalhes da estratégia de implementação à Comissão Tripartite, formada por representantes de estados e municípios. A meta é iniciar a aplicação no começo do calendário vacinal de 2026.

A secretária-executiva da Saúde de São Paulo, Priscilla Perdicaris, lembrou que o país registrou, em 2025, 866 mil casos de dengue e 1.108 mortes. Ela destacou o impacto logístico da dose única: “Isso muda completamente a história do jogo e aumenta a adesão da população.”

O governador Tarcísio de Freitas também ressaltou os benefícios: “Ser dose única vai nos ajudar muito na cobertura vacinal. Infelizmente ainda perdemos muitas vidas para a dengue, e esse cenário poderá ser revertido rapidamente.”

Desenvolvimento nacional e eficácia

A aprovação também foi comemorada por Leandro Pinheiro Safatle, diretor-presidente da Anvisa. “É uma fonte de orgulho para o país. Estamos avançando com uma tecnologia desenvolvida e produzida no Brasil”, disse. Safatle lembrou que o projeto teve apoio financeiro do BNDES e do Ministério da Saúde, somando R$ 130 milhões para as fases 2 e 3 da pesquisa.

A Butantan-DV utiliza vírus vivo atenuado, tecnologia já usada em imunizantes como a tríplice viral, poliomielite e febre amarela. Dados avaliados pela Anvisa mostram eficácia de 74,7% contra dengue sintomática e 89% contra casos graves ou com sinais de alarme — resultados publicados na The Lancet Infectious Diseases.

Fruto de parceria entre o Ministério da Saúde, o Instituto Butantan e a empresa chinesa WuXi Vaccines, a vacina representa um avanço esperado na resposta nacional ao aumento de casos da doença. Com produção em larga escala prevista para 2026, o governo aposta no imunizante como ferramenta decisiva para reduzir internações e mortes por dengue nos próximos anos.