Crise política se agrava: Hugo Motta rompe com Lindbergh Farias após embate sobre PL Antifacção

Foto : Istoé

 

Afastamento entre presidente da Câmara e líder do PT intensifica tensão entre o Palácio do Planalto e o Congresso; aliados veem impactos nas pautas do governo até o fim do ano

 

 

 

O ambiente político em Brasília ficou ainda mais tenso após o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), romper relações com o líder do PT na Casa, Lindbergh Farias (PT-RJ). A decisão, revelada por fontes próximas a Motta, ocorreu após as críticas contundentes do petista ao PL Antifacção — projeto aprovado pela Câmara na última semana e que recebeu forte resistência de setores do PT.

Segundo interlocutores, Motta já vinha demonstrando irritação com Lindbergh havia alguns dias. Aliados do presidente da Câmara avaliam que o líder petista “errou o cálculo político” ao intensificar críticas ao texto e tentar capitalizar politicamente sobre o desgaste da proposta. Eles classificam como desnecessária a escalada retórica de Lindbergh, que teria recorrido a ataques considerados difamatórios.

Momento crítico nas relações entre Executivo e Legislativo

A ruptura ocorre em meio a uma crise mais ampla entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. Na semana passada, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), também cortou relações com o governo após a indicação de Jorge Messias, ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).

Embora Motta mantenha boa relação com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), parlamentares do Centrão afirmam que o afastamento de Lindbergh deve impactar diretamente a capacidade do governo de avançar suas pautas nos próximos meses. Segundo dois deputados ouvidos pela reportagem, Motta não está disposto a fazer novos esforços para ajudar o Planalto até o fim do ano.

Mesmo com o desgaste, integrantes do PT garantem que Lindbergh permanecerá na liderança da bancada até o final de 2025, com previsão de mudança apenas em 2026.

PL Antifacção no centro da disputa

A crise ganhou força após a escolha de Guilherme Derrite (Progressistas-SP), secretário de Segurança Pública de São Paulo e aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), como relator do projeto enviado pelo Executivo. Derrite promoveu alterações importantes no texto original, o que provocou forte reação de Lindbergh, que passou a criticar o relatório publicamente nas redes sociais.

A tensão explodiu durante a reunião de líderes na véspera da votação do projeto no plenário. Motta bateu na mesa e afirmou que a escolha dos relatores cabia exclusivamente à presidência da Câmara. Lindbergh, por sua vez, acusou Motta de trair a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ampliando o desgaste.

Resposta de Lindbergh

Nas redes sociais, Lindbergh classificou como “imatura” a decisão de Hugo Motta de romper relações. “Política não se faz como clube de amigos. Minhas posições políticas são transparentes e previsíveis”, afirmou.

O líder do PT também devolveu críticas, responsabilizando Motta pela crise com o Executivo. “Se há uma crise de confiança na relação entre o governo e o presidente da Câmara, isso tem mais a ver com as escolhas que o próprio Hugo Motta tem feito. Ele que assuma as responsabilidades por suas ações e não venha debitar isso na minha atuação como líder da Bancada do PT”, concluiu.

Com o impasse entre os dois, aliados do governo temem que o final do ano legislativo seja marcado por paralisia e maior tensão na articulação política.