
Com 25 anos de existência, o Porto Digital abriga mais de 470 empresas e movimenta bilhões, unindo história, tecnologia e educação no coração da capital pernambucana
Andar pelo centro histórico do Recife é como fazer uma viagem no tempo — entre casarões do século 17 e ruas de paralelepípedo —, mas o som que se ouve não é o das charretes de outrora, e sim o dos teclados, ventiladores de servidores e conversas em inglês sobre algoritmos e inteligência artificial. Dentro desses prédios coloniais funciona o Porto Digital, um dos principais polos de inovação tecnológica do Brasil.
Com 475 empresas instaladas, o ecossistema gera mais de 21 mil postos de trabalho e abriga desde pequenas startups até multinacionais como Accenture, Deloitte, Capgemini e NTT Data. “Cinco dos dez maiores negócios de tecnologia de informação do mundo, do ponto de vista do volume de capital humano empregado, estão hoje no Porto Digital”, explica Silvio Meira, professor emérito da UFPE e um dos fundadores do projeto, que neste ano completa 25 anos.
O engenheiro Eduardo Peixoto, atual diretor do CESAR, lembra que, quando se formou, a realidade era bem diferente: “Não tinha nada. A fuga de talentos era enorme. Eu mesmo fui para São Paulo e depois Genebra.” Ele retornou em 2002, quando o Porto Digital começava a ganhar corpo. “O objetivo era criar uma economia que retivesse e trouxesse de volta quem tinha saído. E deu certo”, afirma.
Hoje, o polo é também um centro de formação de talentos. “Temos 4,5 mil alunos em três universidades, com cursos rápidos e residência em empresas, o que aproxima o ensino da prática”, diz Pierre Lucena, presidente do Porto Digital. Em 2024, Recife formou 1,4 mil profissionais de tecnologia, número que se aproxima de cidades como São Paulo, referência nacional na área.
O impacto vai além da formação profissional. “Cada empresa que chega traz métodos, processos e conhecimento, gerando um ciclo virtuoso de aprendizado coletivo”, avalia Silvio Meira. O resultado é um ecossistema que, só em 2024, faturou R$ 6,2 bilhões, tornando-se a terceira maior fonte de receita da cidade, mesmo com a política de incentivos fiscais, que reduz o ISS de 5% para 2%.
Mas há quem defenda ajustes nesse modelo. “As empresas pegam os talentos formados aqui. Por que não reinvestir uma pequena parte em educação?”, questiona Peixoto. “Um retorno de 0,5% já ajudaria a manter o fluxo de profissionais que o mercado precisa.”
Enquanto o debate sobre políticas públicas segue, o bairro do Recife Antigo celebra o Rec’n’Play, festival de tecnologia, inovação e cultura que encerra neste sábado (18). Com mais de 700 atividades gratuitas espalhadas por 83 espaços e sete palcos, o evento deve atrair mais de 90 mil pessoas.
Entre os casarões restaurados e os cabos de fibra óptica, o Porto Digital mostra que tradição e modernidade podem, sim, caminhar lado a lado — e que o futuro do Recife está sendo programado no coração de sua história.