
Durante discurso em evento do PCdoB nesta sexta-feira (17), em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a crescente pressão dos Estados Unidos contra os governos da Venezuela e de Cuba. Sem citar diretamente o ex-presidente norte-americano Donald Trump, Lula saiu em defesa da soberania dos países latino-americanos e condenou tentativas de interferência externa.
“Todo mundo diz que a gente vai transformar o Brasil na Venezuela. O Brasil nunca vai ser a Venezuela, e a Venezuela nunca vai ser o Brasil, cada um será ele [próprio]. O que defendemos é que o povo venezuelano é dono do seu destino, e não é nenhum presidente de outro país que tem que dar palpite de como vai ser a Venezuela ou vai ser Cuba”, afirmou o presidente.
A fala ocorreu um dia após Trump confirmar publicamente que autorizou a CIA, durante seu governo, a realizar operações secretas na Venezuela com o objetivo de derrubar o governo de Nicolás Maduro — uma ação que especialistas consideram uma violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas.
Pressão crescente e preocupações regionais
O Brasil, ao lado de diversos países da América Latina, já havia manifestado preocupação com a presença militar dos EUA no Caribe, onde, sob o pretexto de combater o tráfico de drogas, os norte-americanos têm deslocado milhares de militares, navios de guerra e aviões desde agosto.
Segundo reportagens da imprensa dos EUA, o Exército do país teria realizado ao menos seis ataques a embarcações venezuelanas, resultando na morte de mais de 30 pessoas. O governo de Nicolás Maduro acusa Washington de promover uma tentativa de “mudança de regime” e promete levar o caso ao Conselho de Segurança da ONU.
Para analistas internacionais, o interesse dos Estados Unidos na Venezuela está diretamente relacionado às vastas reservas de petróleo do país, as maiores do mundo. Apesar do discurso oficial norte-americano, a Venezuela não integra nenhum grande cartel do narcotráfico, o que reforça a tese de motivações geopolíticas por trás da movimentação militar.
Defesa de Cuba
Lula também criticou a permanência de Cuba na lista norte-americana de países que patrocinam o terrorismo, chamando a classificação de injusta e sem fundamento.
“O que nós dizemos publicamente é que Cuba não é um país de exportação de terroristas. Cuba é um exemplo de povo e dignidade”, disse o presidente brasileiro.
Desde a década de 1960, Cuba enfrenta um embargo econômico e financeiro imposto pelos EUA, que restringe o comércio com a ilha e penaliza empresas que negociam com o país. As sanções se intensificaram durante o governo Trump, incluindo ameaças a países que contratam serviços médicos cubanos — uma das principais fontes de receita da economia local, atualmente afetada por uma grave crise energética e financeira.
Riscos de precedentes
Especialistas ouvidos pela Agência Brasil alertam que as recentes declarações de Trump e as ações militares dos EUA na Venezuela representam um precedente perigoso. Segundo eles, o histórico de interferência norte-americana em governos da América Latina durante a Guerra Fria — por meio do apoio a ditaduras e golpes de Estado — pode estar sendo reeditado sob novas justificativas.
“Essa lógica de intervenção sob o pretexto de defesa da democracia ou combate ao narcotráfico já foi usada no passado e abre caminho para novas violações da soberania de países da região”, apontam os analistas.
O discurso de Lula reforça o posicionamento do Brasil em defesa da autodeterminação dos povos e da resolução pacífica dos conflitos na América Latina, em um momento de crescente tensão geopolítica no continente.