
Pesquisa da Febraban aponta expectativa de início do ciclo de cortes já no 1º trimestre, com taxa chegando a 13,75% em abril
A Pesquisa de Economia Bancária e Expectativas da Febraban revela que 85,7% dos bancos esperam que o próximo ciclo de redução da taxa Selic tenha início no primeiro trimestre de 2026. O levantamento, realizado entre 23 e 29 de setembro com 21 instituições financeiras, mostra que a mediana das projeções aponta queda de 0,25 ponto percentual (p.p.) em janeiro, seguida por reduções de 0,50 p.p. nas reuniões seguintes, levando a Selic a 13,75% em abril.
O estudo também indica uma percepção mais cautelosa em relação ao desempenho da economia brasileira. Embora a maioria das instituições ainda projete crescimento do PIB de 2,2% em 2025, há aumento do número de analistas que esperam um resultado mais fraco: o percentual de bancos que mantêm essa projeção caiu de 70% em agosto para 57,1% em setembro, enquanto 38,1% passaram a prever crescimento menor.
Crédito desacelera no segundo semestre
A expectativa de crescimento do crédito em 2025 permaneceu estável em 8,7%, segundo a pesquisa — mesmo índice observado nas edições de julho e agosto. No entanto, os dados apontam desaceleração do crédito no segundo semestre de 2025, acompanhando a tendência já captada pelo Banco Central: a alta anual de 10,1% em agosto foi inferior aos 10,8% registrados em junho.
A estabilidade das projeções reflete movimentos opostos entre os segmentos de crédito. O crédito direcionado deve crescer 9,8%, impulsionado por programas governamentais voltados às empresas, cuja expansão prevista passou de 10,9% para 12,2%. Já o crédito direcionado às famílias caiu de 9,1% para 8,9%, em razão do aumento da inadimplência no agronegócio, que reduziu o apetite dos bancos pelo crédito rural.
Por outro lado, o crédito com recursos livres teve leve recuo, de 8,1% para 8,0%. Dentro desse grupo, o crédito para empresas caiu de 5,9% para 5,7%, afetado pelas condições financeiras mais restritivas, majoração do IOF e maior concorrência com operações direcionadas e o mercado de capitais. O crédito livre às famílias também reduziu ligeiramente, de 9,7% para 9,6%, ainda sustentado pelo mercado de trabalho aquecido.
“Embora as projeções mostrem estabilidade na expansão da carteira total, há divergências claras entre as carteiras direcionadas e livres. Enquanto o crédito direcionado segue forte, impulsionado pelos programas públicos, o crédito livre já sente os efeitos da política monetária contracionista”, avalia Rubens Sardenberg, diretor de Economia, Regulação Prudencial e Riscos da Febraban.
“De toda forma, as projeções indicam uma acomodação do crédito neste segundo semestre, movimento que já vem sendo observado”, completa.
Inadimplência segue em foco
A taxa de inadimplência continua sendo um ponto de atenção. A projeção para 2025 subiu de 5,0% para 5,1%, ainda abaixo dos 5,4% registrados pelo Banco Central em agosto. Para 2026, houve leve melhora, com expectativa de queda para 4,9%.
Cerca de 60% dos analistas consultados acreditam que a inadimplência das famílias deve manter alta moderada nos próximos meses, com impacto limitado na oferta de crédito.
Mercado de trabalho e inflação
Entre os bancos, 95% avaliam que as mudanças recentes no mercado de trabalho — como a formalização parcial do trabalho por aplicativos — contribuíram para reduzir a taxa de desemprego sem pressionar a inflação (NAIRU). Ainda assim, a maioria entende que o nível atual de desemprego está abaixo do equilíbrio de longo prazo.
Para 2026, a expansão projetada do crédito foi ligeiramente revisada para cima, de 7,8% para 7,9%, com melhora na carteira direcionada (de 8,5% para 9,0%) e pequena queda na livre (de 7,4% para 7,3%).
Quanto à inflação, o mercado se divide: 47,6% esperam taxa alinhada ao consenso de 4,3%, enquanto outros 47,6% projetam inflação abaixo desse patamar, influenciada pela manutenção da política monetária contracionista, valorização cambial e menor crescimento global.
Cenário internacional
No cenário externo, 85,7% dos bancos consultados acreditam que o Federal Reserve (Fed) ainda realizará dois cortes de 0,25 p.p. até o final de 2025, diante dos sinais de moderação no mercado de trabalho dos Estados Unidos.
A íntegra da Pesquisa de Economia Bancária e Expectativas pode ser acessada neste link.