Testes caseiros com bebidas suspeitas podem causar intoxicação por metanol

© Conselho Federal de Quimica/Divu

Substância altamente tóxica já provocou mortes e cegueira em casos de adulteração; população deve evitar contato direto com bebidas suspeitas e denunciar por canais oficiais

O Conselho Federal de Química (CFQ) emitiu um alerta à população sobre os riscos do metanol, especialmente em casos de adulteração de bebidas alcoólicas. Segundo o órgão, testes caseiros, como cheirar ou provar bebidas com suspeita de contaminação, podem levar à intoxicação grave ou até à morte.

A advertência foi feita pelo analista químico Siddhartha Giese, em entrevista à Agência Brasil, que reforçou a importância de medidas preventivas, ações de fiscalização e denúncias por parte da sociedade.

O perigo do metanol

O metanol é uma substância química altamente tóxica ao ser ingerida, mesmo em pequenas quantidades. No organismo humano, ele é metabolizado em formaldeído e ácido fórmico, compostos responsáveis por danos severos ao sistema nervoso e visual, podendo causar cegueira irreversível e óbito.

Os sintomas mais comuns da intoxicação por metanol incluem:

  • Visão turva ou perda total da visão;

  • Náuseas e vômitos;

  • Dor abdominal intensa;

  • Suor excessivo e mal-estar generalizado.

Diante desses sinais, a orientação é procurar imediatamente atendimento médico de emergência e acionar os serviços de assistência:

  • Disque-Intoxicação Anvisa: 0800 722 6001

  • Centro de Controle de Intoxicações (SP): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733 (ligação gratuita de qualquer lugar do país)

  • CIATox da sua cidade, quando disponível

Além disso, é fundamental avisar outras pessoas que possam ter consumido a mesma bebida, para que também procurem atendimento.

Testes caseiros são perigosos

Segundo o CFQ, não se deve tentar identificar adulteração em casa. “Cheirar, provar ou manipular a bebida suspeita pode agravar o risco de intoxicação”, alerta Siddhartha Giese. Qualquer suspeita deve ser comunicada imediatamente aos órgãos competentes.

Como denunciar

A população pode colaborar com a fiscalização de forma anônima por diversos canais:

  • Procon: sites estaduais têm seções específicas para denúncias de bebidas adulteradas;

  • Vigilâncias Sanitárias (municipais e estaduais);

  • Polícia Civil (para investigações e interdições de estabelecimentos);

  • Conselhos Regionais de Química (CRQs).

Sinais de bebidas adulteradas

O analista do CFQ destaca alguns sinais de alerta que podem indicar adulteração de bebidas alcoólicas:

  • Preço muito abaixo do valor de mercado;

  • Embalagem com lacre irregular ou rótulo desalinhado;

  • Erros ortográficos nos rótulos;

  • Ausência de dados obrigatórios como CNPJ, endereço do fabricante ou número do lote.

Ao observar qualquer um desses indícios, o consumidor deve evitar o consumo e notificar as autoridades.

Fiscalização e controle

A venda e o transporte do metanol no Brasil são rigorosamente fiscalizados, já que a substância é controlada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) e pela Polícia Federal. Toda movimentação legal de metanol exige cadastro prévio, autorização específica e total rastreabilidade.

“Apenas empresas autorizadas podem importar e comercializar o produto, mediante licença específica para cada carga”, explica Giese. O uso permitido é restrito a fins industriais, como produção de biodiesel ou formaldeído. Qualquer desvio ou uso irregular configura crime.

A Polícia Federal atua em ações de repressão a atividades criminosas envolvendo metanol, especialmente na adulteração de combustíveis e bebidas.

Responsabilidade técnica e boas práticas

O CFQ e os Conselhos Regionais de Química também têm papel ativo na fiscalização. Empresas que produzem bebidas devem ter responsável técnico (RT) devidamente habilitado, o que garante o cumprimento de normas técnicas, sanitárias e ambientais.

“O profissional responde técnica e legalmente pelas operações, assegurando a qualidade e segurança do produto”, pontua Giese.