Apoio dos Bombeiros do DF na coleta de leite humano ajuda a salvar vidas de bebês internados

Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

 

Acostumados a combater incêndios, resgatar vítimas e proteger a população em situações de risco, os integrantes do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal também têm uma tarefa que poucos sabem: a coleta domiciliar e o transporte de leite humano. Ao todo, 23 militares fazem parte das equipes que cruzam as regiões administrativas até a casa das mamães doadoras. A iniciativa garante alimento essencial a bebês prematuros internados na terapia intensiva (UTIs) neonatais e ajuda a manter os estoques da rede de saúde, que estão em apenas 86% da meta mensal.

No Hospital Regional de Taguatinga (HRT), a subtenente Daniela Moura integra uma das duplas responsáveis por esse trabalho. “A gente costuma dizer que não está fugindo da nossa missão de salvar vidas. Esse ato também salva. São bebês muito prematuros, muito sensíveis, e por mais que a ciência avance, o leite materno é insubstituível. Ele é essencial para uma recuperação mais rápida”, explicou. Segundo ela, são feitas em média 20 visitas domiciliares por dia.

O apoio dos bombeiros se soma à dedicação das equipes de saúde. A fonoaudióloga e chefe do Banco de Leite do HRT, Natália Conceição, lembra que os estoques estão abaixo da meta. “Tanto os militares quanto os outros servidores que trabalham nessa causa sentem muita gratidão porque sabem do potencial e do propósito que ofertam para a vida desses bebês. É gratificante poder fazer parte desse momento tão transformador”, destacou.

A fonoaudióloga também lembrou da importância da doação: “O leite humano é considerado padrão ouro pela Organização Mundial da Saúde. Ele transforma vidas. É um alimento que influencia todo o desenvolvimento de uma criança em recuperação. Em julho conseguimos atingir dois mil litros, mas em agosto voltamos a ficar aquém do esperado, com 1.700 litros. A época da seca é sempre crítica”, disse.

O Distrito Federal é referência mundial em políticas de incentivo ao aleitamento e conta com 14 bancos de leite humano e sete postos de coleta. Em média, 150 a 200 recém-nascidos internados em UTIs dependem todos os meses do leite doado.

 

A professora Sofia Mesquita, de 27 anos, é uma dessas mulheres que transformam a vida de outras famílias. Mãe da Clara, de 4 meses, ela descobriu que podia doar por indicação de uma amiga. “Na minha primeira gestação eu tinha hiperlactação e jogava fora quase um litro de leite por dia. Foi muito sofrimento. Quando descobri que podia doar, isso se tornou uma cura para mim. No meu primeiro filho, eu doei mais de 38 litros só para o HRT. É trabalhoso, exige organização, mas quando a gente entende que esse leite pode salvar a vida de um bebê, tudo vale a pena”, contou emocionada.

Legenda

De janeiro a agosto, foram cerca de 3,6 mil doadoras e mais de 12 mil litros de leite humano coletados no DF, superando o índice registrado no mesmo período de 2024 (11,7 mil litros). O leite doado é destinado principalmente a bebês prematuros e de baixo peso internados em unidades de terapia intensiva (UTIs) neonatais. Nos oito primeiros meses do ano, cerca de 9,4 mil bebês foram atendidos pela Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR).

Como doar

Para doar, basta que a mãe esteja saudável e produza mais leite do que o necessário para seu bebê. O cadastro pode ser feito pelo Disque Saúde 160 (opção 4), pelo site Amamenta Brasília ou pelo Portal Cidadão do DF. A coleta pode ser feita em casa, com orientação das equipes e apoio do Corpo de Bombeiros, que leva e traz o leite até os bancos.

“É um gesto simples, mas que não pode ser feito de qualquer jeito. Tem que acreditar na causa e no propósito do aleitamento materno. Quem está nessa missão sabe que cada frasco representa vida”, resume a subtenente Daniela.

Assim que o fresco chega a uma das unidades do banco, o leite passa por um controle físico-químico e microbiológico para garantir a segurança antes de ofertá-lo ao paciente. Depois disso, o material, sob refrigeração, poderá ser usado em até seis meses.