Polícia Federal indicia Jair e Eduardo Bolsonaro por coação

Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Investigação aponta atuação junto ao governo dos EUA para pressionar autoridades brasileiras; ex-presidente e filho se tornam réus em novos processos criminais

A Polícia Federal (PF) indiciou nesta quarta-feira (20) o ex-presidente Jair Bolsonaro e o filho dele, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), pelos crimes de coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. A decisão foi tomada após a conclusão das investigações sobre a atuação de Eduardo junto ao governo do presidente Donald Trump, visando medidas de retaliação contra o Brasil e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Nos últimos meses, os Estados Unidos anunciaram ações como tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, investigação comercial sobre o Pix e sanções financeiras contra o ministro Alexandre de Moraes, sob a alegação de que o STF atuaria contra empresas americanas de redes sociais. Trump e integrantes de seu governo classificaram Bolsonaro como alvo de uma “caça às bruxas”.

A investigação teve início em maio, após pedido do procurador-geral da República, Paulo Gonet, ao STF, para apurar se Eduardo incentivou sanções internacionais contra Moraes, relator do caso da trama golpista e inquérito das fake news. Eduardo chegou a se afastar do mandato por 122 dias e se mudou para os Estados Unidos alegando perseguição política.

No processo, Jair Bolsonaro é investigado por custear a estadia do filho no exterior via Pix, enquanto Eduardo buscava medidas que pressionassem a justiça brasileira. Paralelamente, Bolsonaro será julgado em 2 de setembro no Supremo, como réu no núcleo principal da ação penal da trama golpista de 2022-2023.

Além dele, sete aliados responderão pelo suposto conluio para reverter o resultado das eleições de 2022, culminando nos ataques contra os Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Entre os réus estão: Alexandre Ramagem, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira, Walter Braga Netto e Mauro Cid.

O ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, atualmente deputado federal, teve crimes posteriores à diplomação suspensos pela Câmara, permanecendo responsável apenas por golpe de Estado, organização criminosa armada e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.

Os outros três núcleos de réus têm ações penais em fase de alegações finais, última etapa antes do julgamento, previsto para ainda este ano. O indiciamento de Jair e Eduardo Bolsonaro amplia o escopo das investigações e reforça a atuação da PF e da PGR na apuração de crimes contra a democracia.