Exportações brasileiras aos EUA ficam cada vez mais concentradas em poucos produtos

© Divulgação/Porto de Santos

Dez itens têm mais de 80% de suas vendas destinadas ao mercado americano; tarifaço imposto por Trump pressiona setores como siderurgia, carne e café

 


Dados do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) revelam que dez dos principais produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos têm mais de 80% de suas vendas externas concentradas naquele mercado.

O caso mais extremo é o da madeira de coníferas perfilada, cujas exportações dependem 98% dos EUA e somaram US$ 189 milhões de janeiro a julho de 2025. O ranking inclui ainda sebo bovino (97%), produtos semimanufaturados de ligas de aço (96%) e aeronaves de médio porte (91%), que se destacam por estarem isentas do tarifaço. Essa última categoria movimentou US$ 654 milhões no período, o maior valor individual exportado ao mercado americano.

O levantamento mostra ainda que julho registrou alta de 6,9% no volume exportado, o maior crescimento interanual desde 2024, superando inclusive as importações (6,5%). Apesar disso, a queda de 1,9% nos preços de exportação e a alta equivalente nas importações reduziram o saldo em valor.

No acumulado, a indústria de transformação liderou a expansão (5,7%), enquanto a extrativa cresceu 1,2% e a agropecuária recuou 3%. As projeções do FGV Ibre apontam superávit comercial de cerca de US$ 62 bilhões em 2025, “caso não surjam novas surpresas”.

Dependência elevada

A concentração das vendas em um único destino preocupa especialistas, sobretudo após a sobretaxa de 50% imposta pelos EUA a diversos produtos brasileiros. Dos 30 itens mais exportados, 18 não foram isentos. O impacto é sentido principalmente em carne e café.

No caso da carne, a tarifa acumulada chega a 74%, afetando um mercado que responde por 12% do volume exportado pelo Brasil no primeiro semestre. Já o café tem nos EUA seu principal comprador, com 8,1 milhões de sacas adquiridas em 2024, equivalente a 16% das vendas externas brasileiras.

Exceções ao tarifaço

Por outro lado, setores como petróleo, laranja, celulose e aviação ficaram de fora das sobretaxas. Uma lista de exceções publicada pelo governo americano em julho contempla 694 produtos, somando US$ 18,4 bilhões em exportações brasileiras.

Apesar disso, especialistas ressaltam que a reorientação para novos mercados não será imediata, sobretudo em cadeias produtivas complexas, como a siderúrgica. Até lá, a dependência das exportações brasileiras em relação aos EUA segue como um dos principais desafios da balança comercial em 2025.