Lula critica tarifa de Trump e defende soberania nacional: “Não podemos ser penalizados por criar o Pix”

© Antonio Cruz/Agência Brasil

 

Presidente diz que não ligará para Trump sobre tarifa de 50% contra produtos brasileiros, mas promete convidá-lo para COP30 e acionar a OMC contra sanção

 


Durante a 5ª Reunião Plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), realizada nesta terça-feira (5), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com firmeza à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Embora tenha evitado um contato direto para discutir o tema, Lula afirmou que convidará o presidente norte-americano para a COP30, em novembro, em Belém (PA), com o objetivo de debater a questão climática.

“Eu não vou ligar para o Trump para conversar nada porque ele não quer falar. Mas vou ligar para convidar para a COP30, para saber o que ele pensa da questão climática”, disse Lula, reforçando que a relação entre os dois países deve respeitar a soberania nacional e os princípios democráticos.

Trump justificou a tarifa citando “práticas comerciais injustas” do Brasil, com destaque para o uso do Pix, sistema de pagamentos instantâneos brasileiro. Lula refutou a crítica e defendeu o Pix como “patrimônio nacional”, lembrando que o modelo é referência internacional. “Gostaria que o presidente Trump fizesse uma experiência com o Pix nos Estados Unidos. Se ele usar para pagar uma conta, vai ver que é uma coisa moderna”, ironizou.

Em tom crítico, o presidente brasileiro insinuou que o lobby das grandes empresas de cartão de crédito estaria por trás das sanções. “Se o Pix tomar conta do mundo, os cartões vão desaparecer. É isso que está por trás dessa loucura contra o Brasil.”

Resposta diplomática e medidas legais


O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, informou que o governo brasileiro apresentará uma resposta formal ao governo norte-americano sobre o Pix no próximo dia 18 de agosto. Lula também anunciou que recorrerá à Organização Mundial do Comércio (OMC) e colocará em prática um plano de contingência para proteger empresas e trabalhadores brasileiros afetados pela medida.

“O dia 30 de julho de 2025 passará para a história das relações entre Brasil e Estados Unidos como um marco lastimável”, afirmou Lula. “Nossa democracia está sendo questionada, nossa economia agredida. É um desafio que não desejamos, mas que enfrentaremos com firmeza.”

Críticas à atuação política de opositores


Lula ainda criticou a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que, segundo o presidente, está nos Estados Unidos “articulando ações contra a economia e a Justiça brasileira” na tentativa de livrar seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, do julgamento por tentativa de golpe de Estado. “Não podemos permitir que interesses eleitorais contaminem nossas relações internacionais.”

 

Setores produtivos reagem


Representantes do setor produtivo também se manifestaram durante o evento. A produtora Priscila Nasrallah, da Abrafrutas, pediu atenção especial ao setor de fruticultura, destacando que os Estados Unidos são destino chave para frutas brasileiras como manga, uva e mamão. “A fruta perecível perde no pé. Se possível, pedimos postergar a entrada em vigor da tarifa para que possamos nos adaptar”, apelou.

Segundo ela, pequenos produtores que já se comprometeram com contratos internacionais correm o risco de sofrer grandes prejuízos. “Muitos se expuseram ao câmbio, compraram embalagens e agora vão precisar de proteção e respaldo financeiro.”

Centrais sindicais pedem diálogo e medidas para preservar empregos


O presidente do Fórum das Centrais Sindicais, Clemente Ganz, alertou para o risco de desemprego nos setores impactados e defendeu um pacto nacional com foco em inovação, investimento, produtividade e proteção ao trabalhador. “Estamos articulando a participação de centrais sindicais brasileiras com seus pares nos EUA, Europa e México. A defesa do emprego tem que estar no centro dessa discussão”, afirmou.

 

União Europeia e EUA fecham acordo paralelo


Em contraste com o impasse com o Brasil, Trump anunciou recentemente um acordo com a União Europeia, que reduziu a tarifa para produtos europeus a 15%, em troca de promessas de investimentos de mais de US$ 1 trilhão por parte do bloco europeu nos Estados Unidos. Lula criticou a disparidade de tratamento. “Assinar um acordo com o Mercosul é uma glória, porque nossas propostas têm respeito e cidadania.”

 

Acordo Mercosul-UE até o fim do ano


Apesar da crise com os EUA, Lula reafirmou seu compromisso de assinar o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia ainda em 2025, enquanto o Brasil ocupa a presidência do bloco sul-americano. A expectativa é de que o tratado fortaleça a presença brasileira em novos mercados e reduza os impactos do tarifaço sobre a economia nacional.