Lipedema: A doença crônica que acomete as mulheres e muitas vezes é ignorada

Foto de Pat Ferranco na Unsplash

O lipedema é uma condição crônica vascular que afeta principalmente as mulheres e é caracterizado pelo acúmulo anormal de gordura nas pernas e braços. Além disso, causa dor e sensibilidade nos locais afetados, resultando em desconforto significativo. Apesar de ser uma doença que acomete cerca de 12% das mulheres brasileiras, segundo a Associação Brasileira de Lipedema, a condição ainda é amplamente confundida com outros problemas, como sobrepeso e obesidade, dificultando o diagnóstico correto e o tratamento eficaz.

De acordo com o especialista em Cirurgia Vascular e Endovascular, Vitor Gornati, o lipedema foi descrito pela primeira vez quase 100 anos atrás. A doença surgiu como diagnóstico quando médicos observaram que algumas mulheres apresentavam assimetrias corporais, com uma quantidade excessiva de gordura na parte inferior do corpo, associada a dores, sensibilidade, hematomas fáceis, dor articular, inchaço e até varizes. No entanto, poucos estudos foram realizados sobre a doença até a última década, o que ainda contribui para a falta de reconhecimento por parte de muitos profissionais da saúde.

Sintomas: Como Identificar o Lipedema

Os principais sintomas do lipedema incluem:

  • Dor e desconforto local: principalmente nas pernas e braços.

  • Sensibilidade aumentada nos membros afetados, tornando o toque doloroso.

  • Cansaço e fadiga nos membros inferiores, dificultando atividades diárias.

  • Sensação de peso ou “pressão” constante nas pernas, o que pode afetar a mobilidade.

  • Hematomas espontâneos, devido à fragilidade dos vasos sanguíneos capilares.

  • Coxins de gordura, localizados principalmente na parte interna das coxas e pernas, que dificultam a movimentação normal e comprometem a marcha.

Um dos sinais mais indicativos do lipedema, segundo o especialista, é a resistência da gordura ao tratamento convencional, como dieta e exercícios físicos. Ou seja, a pessoa pode até perder peso em outras partes do corpo, mas as áreas afetadas pelo lipedema permanecem com o acúmulo de gordura. Além disso, dificuldade para ganhar massa muscular também é um sintoma comum, o que pode levar a dores articulares devido à falta de musculatura para proteger as articulações. A flacidez na pele é outro sintoma frequentemente associado à doença.

Como Diagnosticar o Lipedema?

O diagnóstico do lipedema é feito a partir da avaliação clínica dos sintomas apresentados pelo paciente. No entanto, é importante realizar alguns exames complementares para confirmar a condição e diferenciá-la de outras doenças vasculares ou metabólicas, como o linfedema, por exemplo.

Um exame crucial é a bioimpedância, que avalia a composição corporal, incluindo a quantidade de massa magra, gordura corporal e água corporal total. Este exame é fundamental para diferenciar o lipedema de condições como o linfedema, que resulta da disfunção do sistema linfático e provoca acúmulo de líquido nos tecidos, causando inchaço persistente.

Outro exame útil é a densitometria corporal, que também mede a composição corporal, além da densidade mineral óssea. Segundo Gornati, a densitometria ajuda a identificar se a paciente apresenta obesidade, lipedema, ou até mesmo ambas as condições associadas.

O ultrassom também pode ser utilizado para descartar outras doenças venosas, como varizes e trombose, que causam inchaço nos membros. O exame também pode avaliar a inflamação na gordura, característica marcante do lipedema.

Outras ferramentas complementares incluem a algometria, que mede a sensibilidade à dor, e a termografia, que avalia a temperatura da pele e pode identificar focos de inflamação, outro indicativo da presença do lipedema.

Tratamento do Lipedema: Clínico ou Cirúrgico?

O tratamento do lipedema é dividido em duas abordagens: clínica e cirúrgica. Vitor Gornati esclarece que todos os pacientes precisam seguir um tratamento clínico, mas nem todos necessitam de cirurgia. O tratamento inicial envolve métodos como drenagem linfática e o uso de meias de compressão, que ajudam a reduzir o inchaço e a dor. Em alguns casos, a lipossucção pode ser indicada para remover o excesso de gordura nas áreas afetadas, sendo esse o tratamento cirúrgico mais comum.

Além disso, a atividade física regular e a alimentação balanceada podem ser indicadas como parte do tratamento clínico, mas, como já mencionado, não têm um impacto direto sobre a gordura localizada, que é uma das características do lipedema.

A Importância do Diagnóstico Precoce

O diagnóstico precoce do lipedema é essencial para que o tratamento seja mais eficaz e, assim, evite o agravamento da doença. A falta de conhecimento sobre essa condição ainda leva muitas mulheres a sofrerem com os sintomas durante anos, sem a devida orientação. Além disso, a identificação errônea da doença como sobrepeso ou obesidade pode atrasar o início do tratamento adequado, tornando o quadro mais difícil de ser gerenciado.

Por isso, a conscientização sobre o lipedema e a capacitação de médicos para o diagnóstico correto são fundamentais para a melhoria da qualidade de vida das mulheres afetadas por essa condição. O acompanhamento médico adequado, aliado a terapias específicas, pode ajudar a controlar os sintomas e promover uma melhor qualidade de vida para aquelas que convivem com o lipedema.a