Moraes rejeita pedido de Bolsonaro para anular delação de Mauro Cid

 

Ministro considera pedido “impertinente” e aponta que validade da colaboração será avaliada ao final do processo


O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou nesta terça-feira (17) um pedido da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para anular o acordo de colaboração premiada firmado pelo tenente-coronel Mauro Cid. A solicitação foi considerada “impertinente” pelo magistrado, que argumentou caber ao relator indeferir requerimentos irrelevantes ou protelatórios durante a ação penal.

A defesa de Bolsonaro baseou-se em reportagens da revista Veja que divulgaram supostas mensagens de Cid via um perfil no Instagram (@gabrielar702), apontando quebra de sigilo da delação. Em uma dessas conversas, o perfil faz críticas ao próprio Moraes e a autoridades envolvidas na investigação do plano golpista.

Durante interrogatório no STF, no início do mês, Cid negou utilizar redes sociais para se comunicar com aliados. A defesa do ex-presidente afirmou que essa negativa configura quebra de confiança e mentiras no âmbito da colaboração.

Apesar da rejeição do pedido, Moraes deixou em aberto a possibilidade de que a validade da delação de Cid seja analisada mais adiante, quando o processo entrar na fase final, após a produção de provas. O ministro também determinou que a empresa Meta informe dados sobre o perfil no Instagram supostamente usado por Cid.

A situação do ex-ajudante de ordens se agravou após o advogado Eduardo Kuntz, defensor do coronel Marcelo Câmara (também réu no caso), divulgar os áudios e mensagens que teriam sido trocados com Cid. Kuntz afirmou ao Estadão que decidiu expor o material como “estratégia”, alegando que ele demonstra falta de espontaneidade na delação — requisito essencial para sua legalidade.

Nos diálogos, o perfil atribuído a Cid insinua que as investigações já teriam um desfecho pré-determinado e critica duramente o trabalho do delegado Fábio Shor. Também revela sentimento de abandono por parte de aliados políticos. “Quem perdeu tudo? Fui eu”, diz uma das mensagens.

A defesa de Mauro Cid informou que ainda não analisou os conteúdos divulgados nem confirmou a autenticidade das mensagens.

O processo agora entra na fase de diligências complementares, em que tanto acusação quanto defesa podem pedir novas provas. Moraes já determinou acareações e solicitou informações à plataforma Google sobre a autoria da publicação da minuta golpista que propunha a anulação das eleições de 2022 — documento que foi encontrado na casa do ex-ministro Anderson Torres.