
Presidente critica operações militares nos estados e apoia uso de câmeras corporais por policiais
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (20) que não pretende decretar operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para reforçar a segurança pública nos estados. Em entrevista à Rádio Tupi FM, do Rio de Janeiro, Lula defendeu a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, que deve ampliar as atribuições da União no combate ao crime organizado.
De acordo com o presidente, a medida busca estabelecer um papel mais claro para o governo federal na segurança pública, sem interferir na autonomia dos governadores. “Muitas vezes, os governadores não querem [atuação da União] porque a polícia é um pedaço do poder do estado e, muitas vezes, eles não querem que o governo federal se intrometa”, afirmou.
Rejeição às GLOs
Lula criticou a estratégia de operações militares federais nos estados, citando a intervenção no Rio de Janeiro em 2018. “De vez em quando, pedem que eu faça uma GLO. Eu não vou fazer, porque a GLO que foi feita no Rio de Janeiro custou mais de R$ 2 bilhões e não resolveu quase nada”, declarou.
O presidente argumenta que a solução para a segurança pública precisa ser mais estruturada e envolver participação conjunta entre União e estados. “Queremos uma ação complementar com o governador do estado e resolver definitivamente a questão da segurança”, disse.
A nova versão da PEC da Segurança Pública está em análise na Casa Civil antes de ser enviada ao Congresso Nacional. O texto também prevê a criação de um fundo federal para fortalecer as polícias e o sistema penitenciário.
Uso de câmeras corporais
No contexto das operações policiais no Rio de Janeiro, Lula defendeu a adoção de câmeras corporais por agentes de segurança para reduzir a letalidade. “Nós não podemos entrar na favela só para matar as pessoas. Queremos que os policiais entrem com câmera para saber se ele vai ser violento ou não antes de tomar qualquer atitude”, afirmou.
Ao mesmo tempo, o presidente reconheceu que confrontos podem resultar em mortes. “Se for necessário, no tiroteio, alguém vai morrer, e a gente não pode só culpabilizar a polícia”, disse.
A discussão ocorre no momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) julga a chamada ADPF das Favelas, que busca estabelecer diretrizes para reduzir a violência policial em comunidades cariocas.
Violência no Rio e desafios da segurança pública
Um relatório divulgado pelo Instituto Fogo Cruzado na última semana apontou um aumento nos tiroteios e vítimas da violência na região metropolitana do Rio de Janeiro neste início de ano. Diante desse cenário, Lula reforçou a necessidade de mudanças estruturais.
“Nós não podemos permitir que esse bangue-bangue continue existindo no Rio de Janeiro. A polícia não pode entrar na favela só para atacar ou atirar. É preciso que a polícia participe constantemente da vida cotidiana da favela”, concluiu.
A proposta da PEC da Segurança Pública deve ser enviada ao Congresso nos próximos meses e pode redefinir o papel da União no combate ao crime no Brasil.