Fogos de artifício: Tradição de fim de ano que causa sofrimento a animais e pessoas sensíveis ao ruído

Foto de Ray Hennessy na Unsplash

 

Rojões e estampidos, comuns em celebrações como o Réveillon, geram impactos graves em animais domésticos, fauna silvestre e pessoas com sensibilidade auditiva, como autistas. Propostas de proibição ganham força no Congresso e em diversas cidades

 

 

As luzes e os estrondos que celebram o fim de um ano e a chegada de outro são aguardados com alegria por milhões de pessoas ao redor do mundo. Entretanto, para uma parcela significativa da comunidade de seres vivos, essas celebrações podem significar dor, pânico e, em casos extremos, a morte. Os estampidos dos fogos de artifício, uma tradição secular, têm um impacto devastador sobre animais domésticos, silvestres e pessoas com alta sensibilidade sonora, como autistas e outras com transtornos sensoriais.

Especialistas, tutores e ativistas alertam sobre os prejuízos causados por essas explosões sonoras. “Os cães, por exemplo, possuem uma audição até quatro vezes mais sensível que a dos humanos. O barulho é interpretado como uma ameaça iminente, gerando pânico extremo, tentativas de fuga e, em casos mais graves, até colapsos fatais em animais com problemas cardíacos”, explica o veterinário Neander Oíbio.

Os gatos, por sua vez, tendem a buscar refúgio em locais escondidos, mas não estão livres de riscos. “Infartos causados pela descarga de adrenalina são comuns, além de ferimentos e alterações comportamentais severas”, alerta Juliane Araripe, coordenadora da Maternidade Felina, que abriga cerca de 150 gatos resgatados.

O impacto também é sentido na fauna silvestre. Aves abandonam ninhos e podem colidir com obstáculos por desorientação. Mamíferos e répteis entram em pânico, alterando comportamentos vitais como alimentação e reprodução.

Sensibilidade auditiva em humanos: um problema negligenciado

Pessoas no espectro do autismo ou com transtornos de processamento sensorial enfrentam dificuldades significativas durante as celebrações com fogos. Mila Guimarães, autista e residente em Belo Horizonte, descreve sua experiência: “Os estampidos são extremamente perturbadores. Me deixam ansiosa, com medo e, em muitas ocasiões, precisei de atendimento hospitalar.”

A psiquiatra Ana Aguiar reforça a gravidade do problema: “O som dos fogos pode causar cefaleia, desorientação e outras reações físicas severas em pessoas sensíveis, especialmente autistas. Sem orientação adequada, os impactos podem ser perigosos.”

Proibição e alternativas

O debate sobre a proibição de fogos de artifício com estampidos tem ganhado força. Em outubro, o Senado aprovou um projeto de lei que veta o uso de fogos barulhentos em todo o território nacional, com multas pesadas para quem descumprir a norma. O texto aguarda análise na Câmara dos Deputados.

Enquanto isso, campanhas de conscientização, como a promovida pelo Instituto Cultural e do Bem-Estar Animal (ICBEM), incentivam o uso de fogos silenciosos, que mantêm o espetáculo visual sem causar danos à saúde de pessoas e animais.

Medidas preventivas

Para mitigar os impactos enquanto a proibição não é universal, especialistas sugerem medidas preventivas. No caso de animais, recomenda-se preparar um ambiente seguro, com sons suaves e locais confortáveis para se abrigarem. Fones de ouvido com cancelamento de ruído ou tampões auriculares são indicados para pessoas sensíveis.

Com mais atenção ao bem-estar coletivo, é possível equilibrar tradição e respeito às diferentes necessidades, tornando as festas de fim de ano mais inclusivas e conscientes.