Pesquisadores documentam pela primeira vez como os maiores predadores do oceano subjugam os gentis gigantes do mar
Um grupo de orcas no Golfo da Califórnia, próximo à costa do México, surpreendeu cientistas ao demonstrar uma estratégia refinada para caçar e matar tubarões-baleia, o maior peixe do mundo. A descoberta foi publicada nesta sexta-feira (29) na revista científica Frontiers in Marine Science.
Os tubarões-baleia, que podem atingir até 18 metros de comprimento, são conhecidos por sua natureza dócil e lento deslocamento, o que os torna alvos vulneráveis. Segundo o estudo, as orcas aproveitam essas características e empregam táticas de alta eficiência, como virar suas presas de barriga para cima, induzindo um estado de imobilidade tônica — uma paralisia temporária causada por medo extremo.
Caça planejada e precisão mortal
Os cientistas analisaram quatro eventos de caça registrados entre 2018 e 2024. As orcas, geralmente caçando em grupo, utilizam seus corpos para atingir o tubarão-baleia em alta velocidade, invertendo-o e impossibilitando sua fuga para as profundezas. A estratégia culmina em mordidas no abdômen, que permitem que o sangue da presa flua antes do consumo.
De acordo com Erick Higuera Rivas, autor sênior do estudo e biólogo marinho da organização Conexiones Terramar, o comportamento documentado é inédito. “As orcas coordenam os ataques com precisão. Enquanto uma atinge a barriga, outra foca na cabeça, levando o tubarão-baleia a uma posição de total vulnerabilidade”, explica.
A pesquisa identificou uma orca macho chamada Moctezuma como uma figura central em três dos quatro eventos registrados. Avistada pela primeira vez em 1992, Moctezuma tem aproximadamente 8 metros de comprimento e é conhecida por sua caça a outras espécies de elasmobrânquios, como tubarões-touro e arraias.
Impactos no ecossistema e novas hipóteses
Embora a caça ao tubarão-baleia seja notável, os pesquisadores afirmam que, até o momento, o comportamento das orcas não apresenta consequências significativas para a população desses tubarões no Golfo da Califórnia. No entanto, o fenômeno pode indicar a formação de um novo ecótipo — grupos de orcas especializados em determinadas presas.
“É fascinante observar como as orcas podem desenvolver técnicas tão específicas para caçar diferentes espécies, inclusive o maior tubarão do planeta”, comentou Sarah Teman, pesquisadora da Universidade de Washington, que não participou do estudo.
A descoberta também levanta paralelos com o comportamento das orcas na África do Sul, onde ataques a tubarões-brancos têm causado mudanças ecológicas na região.
Oportunidade para novas pesquisas
O comportamento registrado pelas câmeras e relatos do público oferece um vislumbre do papel das orcas como predadores do topo da cadeia alimentar. Mais estudos serão necessários para entender se essa estratégia de caça ao tubarão-baleia se limita a um grupo específico ou pode ser amplamente adotada por outras orcas no futuro.
Com essas descobertas, o Golfo da Califórnia se reafirma como um ponto crucial para a ciência marinha, revelando interações fascinantes entre os maiores habitantes do oceano.