Publicação do Ipea revela que enquanto houve queda de 2,8% para mulheres não negras, taxa para mulheres negras cresceu 0,5% em 2021
A mais recente edição do Atlas da Violência, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revela um cenário preocupante no Brasil, com um aumento de 0,5% na taxa de homicídios de mulheres negras em 2021, enquanto houve uma redução de 2,8% para mulheres não negras.
Em números absolutos, 2.601 mulheres negras foram vítimas de homicídio no país em 2021, representando 67,4% do total de mulheres assassinadas. A taxa para mulheres negras foi de 4,3 vítimas para cada 100 mil habitantes, um índice 79% superior ao das mulheres não negras.
O Atlas da Violência destaca que a violência letal é historicamente mais prevalente entre mulheres negras, relacionando esse cenário a fatores econômicos, discriminação racial e de gênero no mercado de trabalho, além do impacto na dependência financeira, tornando-as mais suscetíveis à violência de gênero.
A publicação alerta que, mesmo com a redução global de homicídios em 2021, 14 unidades da federação apresentaram aumento nas taxas de assassinatos de mulheres. Roraima lidera os estados com maiores taxas, seguido por Ceará e Acre. Ressalta-se também que o orçamento reduzido para políticas de enfrentamento à violência, o radicalismo político e os efeitos da pandemia de COVID-19 contribuíram para o aumento da violência de gênero.
A pesquisa ainda evidencia o desafio na correta classificação dos crimes de feminicídio, que foi tipificado apenas em 2015. A violência dentro das residências, especialmente para mulheres acima de 30 anos, manteve estabilidade, enquanto o racismo estrutural se revela como um fator direto nas taxas de letalidade para a população negra.
O Atlas da Violência baseia-se em dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), bem como em mapeamentos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e informações do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A pesquisa ressalta que os números representam apenas a ponta do iceberg, evidenciando a necessidade de estudos mais abrangentes e uma abordagem integrada para combater a violência de gênero no país.