
Pesquisa aponta que mulheres negras têm probabilidade 46% maior de fazer um aborto em relação a mulheres brancas
Um estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com outros órgãos revela que as mulheres negras têm uma probabilidade 46% maior de fazer um aborto em todas as idades, em comparação com as mulheres brancas. Esse número implica que, para cada 10 mulheres brancas que realizam um aborto, aproximadamente 15 mulheres negras passam pela mesma situação.
O levantamento também aponta que, ao atingirem os 40 anos de idade, uma em cada cinco mulheres negras terá feito ao menos um aborto, enquanto entre as mulheres brancas, será uma em cada sete.
A pesquisa utilizou uma amostra de mulheres de 18 a 39 anos de idade, gerada a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). A análise baseou-se na Pesquisa Nacional de Aborto (PNA), realizada nos anos de 2016, 2019 e 2021. Os resultados demonstraram que as mulheres negras são as mais vulneráveis ao aborto, indicando uma desigualdade racial persistente.
Emanuelle Góes, pesquisadora e autora do estudo, reflete sobre essas desigualdades raciais, apontando que as mulheres negras são as mais suscetíveis ao aborto inseguro, tornando-se um problema de saúde pública e reprodutiva para elas.
O estudo também levanta a questão da descriminalização do aborto. Recentemente, a presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, votou a favor da descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação, ressaltando que é uma questão de saúde pública e reprodutiva da mulher. Atualmente, o aborto é permitido no Brasil em três condições: em caso de estupro, risco para a vida da gestante e fetos anencéfalos.
A Fiocruz defende que a criminalização do aborto impede o acesso das mulheres aos serviços de saúde, levando-as a utilizar métodos inseguros para abortar e ficando expostas a riscos desnecessários. A fundação também enfatiza que a criminalização impede o debate que poderia ajudar na prevenção do aborto.
A pesquisa foi publicada na revista Ciência e Saúde Coletiva da Abrasco e contou com a coautoria de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de Columbia, dos Estados Unidos. Os dados evidenciam a urgência de ações voltadas para a equidade e acesso igualitário à saúde reprodutiva no país.