Cúpula da Amazônia busca viabilizar atividades sustentáveis com participação indígena

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

Nos dias 8 e 9 deste mês, Belém será palco da Cúpula da Amazônia, um encontro de chefes de Estado da região com o objetivo de promover atividades ambientalmente sustentáveis que garantam a subsistência das comunidades locais, incluindo as comunidades indígenas. Para alcançar esse objetivo, é fundamental que governos e sociedade compreendam algumas diferenças conceituais que os povos indígenas têm em relação a palavras como “economia” e “floresta”, conforme destacou Ângela Kaxuyana, assessora política e representante internacional da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), do povo Kahyana.

Economia Indígena

Segundo Ângela Kaxuyana, o conceito de economia para os indígenas vai além do monetarismo. Para eles, a economia abrange uma concepção mais ampla e profunda, sendo a base para garantir uma qualidade de vida que assegure a segurança dos povos indígenas. Ela explicou que existem várias alternativas e potenciais dentro da biodiversidade amazônica que permitem a subsistência das comunidades, como o artesanato e o extrativismo da castanha e da farinha, produtos fornecidos pela própria natureza, mas que muitas vezes são pouco valorizados.

Para os indígenas, os recursos disponíveis não alteram o que eles se propõem a proteger: a floresta em pé, que muitas vezes não tem um valor monetário reconhecido por outros. Ângela ressaltou que a sociedade costuma valorizar apenas o que é relevante para ela, nem sempre considerando o que é importante para os povos indígenas.

Significado da Floresta Outro conceito importante que precisa ser entendido é o de “floresta”. Para os indígenas, a floresta não se resume apenas a árvores em pé, mas engloba tudo o que está inserido nela, inclusive sob uma perspectiva cultural e espiritual. Para lidar com os desafios das mudanças climáticas, é fundamental compreender a sabedoria ancestral e os conhecimentos tradicionais dos indígenas, bem como suas técnicas e tecnologias de preservação florestal.

Diálogos Amazônicos

Buscando sugestões que levem em consideração visões diferenciadas, o evento prévio à Cúpula da Amazônia, chamado de Diálogos Amazônicos, reunirá representantes de diversas entidades e movimentos sociais. A ideia é formular sugestões para políticas públicas sustentáveis na região, que serão apresentadas aos chefes de Estado durante a Cúpula.

Participação Igualitária

Ângela enfatizou a importância de dar voz às comunidades locais, incluindo povos indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhos, na definição de políticas e estratégias para a região amazônica. Ela afirmou que não é possível tratar do futuro da Amazônia sem a participação ativa daqueles que vivem na região e que compreendem suas particularidades. Nesse sentido, a demarcação das terras indígenas é vista como um caminho inicial para garantir a sustentabilidade e a diversidade da região.

Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) A Coiab, fundada em 1989, é a maior organização indígena regional do Brasil e tem como missão defender os direitos dos povos indígenas à terra, saúde, educação, cultura e sustentabilidade. Com atuação em nove estados da Amazônia Brasileira, busca garantir a autonomia dos povos indígenas por meio de articulação política e fortalecimento de suas organizações.