Estudo destaca falta de vínculo familiar e aponta negligência como principal motivo de acolhimento
Um preocupante relatório divulgado nesta quarta-feira (2) pela organização Aldeias Infantis SOS trouxe à tona uma realidade alarmante: cerca de 32 mil crianças e adolescentes estão vivendo em serviços de acolhimento em todo o país, afastados do convívio familiar. De acordo com a pesquisa intitulada “Vozes (in)escutadas e rompimento de vínculos: pesquisa sobre crianças e adolescentes em cuidados alternativos, egressos/as e risco a perda de cuidado parental no Brasil”, as regiões Sudeste e Sul concentram oito em cada dez dessas crianças e adolescentes.
Durante a apresentação do relatório, o coordenador geral do Instituto Bem Cuidar, José Carlos Sturza de Moraes, destacou a situação crítica nas duas regiões mais desenvolvidas e ricas do país, onde há um maior número de crianças afastadas da família por desassistência do Estado ou da sociedade, ou ainda por ambos.
Um dos dados mais preocupantes é que seis em cada dez crianças e adolescentes abrigados não recebem visitas familiares, o que ressalta a falta de vínculo entre essas crianças e suas famílias. Apesar disso, a pesquisa revela que muitos deles desejam voltar a morar com suas famílias ou, pelo menos, retomar o contato.
Os principais fatores que levaram essas crianças e adolescentes a serem acolhidos estão relacionados à negligência e à violência física ou psicológica. A negligência se mostrou como o maior motivador de acolhimento em todas as regiões brasileiras, alcançando um índice de 9,21 em uma escala de 0 a 10. O estudo também aponta a dependência química do responsável pela criança ou adolescente (7,89) e a violência física e psicológica (8,27) como motivos significativos.
O perfil das crianças e adolescentes em serviços de acolhimento revela que a maioria deles (44%) tem entre 12 e 17 anos, seguidos por 27% com idades entre 6 e 11 anos, e 25% com até 5 anos. Além disso, quase 40% dos jovens passaram mais de 18 meses em acolhimentos, um período superior ao estabelecido pela legislação. Meninos e jovens que se autodeclararam negros foram os mais afetados nesses casos.
O estudo foi realizado entre novembro do ano passado e março deste ano em 23 estados e no Distrito Federal, ouvindo mais de 350 crianças e adolescentes sob a guarda do Estado, acolhidos em casas, lares e abrigos públicos e de organizações não governamentais. Diante desses dados alarmantes, o relatório destaca a necessidade urgente de ações para garantir melhores condições de vida e acesso a políticas públicas para as famílias em risco de ruptura de vínculos, além de um melhor atendimento às crianças e adolescentes em cuidados alternativos, bem como apoio continuado às juventudes que saíram desses serviços.