Uma pesquisa realizada com 105 moradores de favelas cariocas revelou que seis em cada dez pacientes que fazem terapia com óleo de maconha dependem de doações de organizações não governamentais (ONGs). O levantamento, conduzido pela ONG Movimentos, constatou que a maioria dos entrevistados precisa receber o insumo medicinal de forma gratuita por meio dessas entidades.
De acordo com o estudo, 66,67% das 63 pessoas que utilizam o óleo de maconha recebem o medicamento de ONGs ou instituições. Outras formas de obtenção incluem associações de pacientes (20,63%), amigos ou parentes (6,35%), liminares (3,17%) ou importação direta pelo paciente (3,17%).
Ricardo Fernandes, representante da ONG Movimentos, destacou que a pesquisa revela a presença de pacientes que utilizam derivados da maconha nas favelas. Ele ressaltou que o acesso ao canabidiol ainda é elitizado, devido aos altos preços envolvidos.
Muitos pacientes não possuem condições financeiras para arcar com o custo do medicamento e precisam ter acesso de forma gratuita ou subsidiada. Fernandes apontou que o processo de obtenção do óleo por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) é burocrático, o que leva muitos pacientes a recorrerem à ajuda de ONGs e outras instituições.
Embora 60 dos 63 pacientes que utilizam o óleo tenham prescrição médica, apenas seis obtiveram autorização judicial para o uso do produto. Alguns estados regulamentaram a distribuição gratuita desse tipo de medicamento, facilitando o acesso dos pacientes, como São Paulo, Paraná, Alagoas, Rio Grande do Norte e Distrito Federal.
A pesquisa revela as dificuldades burocráticas enfrentadas pelos pacientes para obter o óleo de forma gratuita pelo SUS. Fernandes destacou a complexidade e a exigência de documentação, dificultando o acesso para muitos residentes das favelas.
Mesmo os medicamentos obtidos por meio de ONGs nem sempre são totalmente gratuitos. Alguns pacientes precisam arcar com parte do custo, como o frete para importação do óleo de outros países.
O óleo de canabidiol ou de THC é utilizado por 60% dos entrevistados, mas não é a única forma de uso medicinal da maconha. Outros usos registrados incluem o cigarro de maconha (18,1%), chás (0,95%) e alimentos (0,95%).
O tratamento do transtorno do espectro autista é o principal motivo (52,2%) para o uso dos derivados de maconha, seguido por epilepsia (12,39%), sintomas de ansiedade (12,39%), sintomas de depressão (7%) e dores (5%).
Chama atenção o fato de que 28% dos usuários de medicamentos derivados da maconha são evangélicos. A pesquisa destaca a experiência de uma mãe evangélica que utiliza o óleo de um projeto no Complexo do Alemão para tratar dores.